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sábado, 23 de novembro de 2013

IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PRESBITERIANISMO EM SÃO PAULO

A cidade de São Paulo já demonstrava seu potencial econômico e sua força no desenvolvimento político do país no inicio do século XIX. Neste período a cidade experimentava um crescimento populacional e material bastante expressivo, iniciando um processo de urbanização que haveria de se intensificar cada vez mais.
O novo momento de São Paulo não tinha nada a vê com seus primeiros anos, quando, depois ter sido fundada, em 1554, permaneceram três longos séculos à margem da economia colonial e imperial. Isolada no alto da Serra do Mar, a vila, que só se tornou cidade em 1711, havia sobrevivido todo esse tempo da lavoura de subsistência, da escravização de índios e das expedições bandeirantes. (ARAUJO, 2006, p. 11). Ainda que tenha sido a capitania hereditária responsável pela expansão territorial e o povoamento de quase todo o interior do Brasil.
A causa primária do deslocamento econômico e político do Rio de Janeiro, até então capital do Império, para São Paulo foi sem duvida alguma o desenvolvimento do setor da industrialização do café no Oeste paulista e suas inovações no setor de comercialização do produto. A riqueza gerada pelo “ouro verde” conforme ficou denominado o café, alavancou a acelerada urbanização e a industrialização da cidade.
A partir da década de 1870,[1] São Paulo tornava-se um lugar privilegiado das transformações socioeconômicas, urbanísticas, físicas e demográficas. Bem no meio da prosperidade crescente da lavoura cafeeira e das tensões ligadas à crise final da escravidão no país, a cidade se transformava de forma acelerada na “metrópole do café”. Todo esse conjunto de fatores implicou, por sua vez, em alterações profundas nas funções e espaços da cidade, em favor de um maior controle e racionalização, de modo a assegurar para São Paulo o importante status de entreposto comercial e financeiro privilegiado para as relações entre a lavoura cafeeira paulista e o capital internacional. (LEMOS, 1989, Apud HENRIQUES, 2011, p. 364) [2]
As linhas férreas, que ligavam o interior da província ao porto de Santos, por onde escoavam as safras, e posteriormente expandiram-se por todo o Estado[3] tornaram-se rotas e lugares estratégicos para se propagar a mensagem evangélica e estabelecer as novas denominações protestantes, conforme indicado anteriormente neste trabalho.
Deste modo, São Paulo vai ocupando um espaço cada vez maior no destino da nação, como marco do tão desejado progresso. Em consequência ocorre uma reestruturação do poder, o que vai resultar no surgimento de tendências mais radicais que propunham a autonomia das províncias como solução para os muitos conflitos que insurgiam continuamente. Segundo Emília Viotti Costa os prósperos agricultores desta região oeste de São Paulo é um representativo desta postura: 

O caráter pioneiro, a mobilidade social, a prosperidade crescente favoreciam a difusão das ideias novas, desde que elas significassem uma promessa de satisfação dos anseios dos novos grupos e a possibilidade de ampliar a ação e o domínio. A ideia republicana oferecia essa perspectiva aos fazendeiros do Oeste Paulista que se sentiam lesados pelo governo imperial e que desejavam não só obter maior autonomia, como imprimir à vida econômica e política da nação as suas próprias diretrizes (1999, p.481).
Acredito que este espírito de autonomia e independência permeou logo cedo os jovens pastores presbiterianos nacionais, conforme os eventos sucessivos haverão de revelar.
Os primeiros missionários que passaram pela cidade de São Paulo, como Kidder e Fletcher, conforme citados em artigos anteriormente, já pressentiam o grande potencial dela como importante na estratégia para o desenvolvimento do protestantismo no Brasil.
Tendo conhecimento destas informações sobre o potencial da cidade, bem como da boa receptividade para com a mensagem evangélica protestante, Simonton ainda em seus primeiros esforços missionários, empreende uma primeira viagem a São Paulo, conforme indica em seu registro do diário – São Paulo, 30 de dezembro de 1860 (Hotel da Itália): 

[...] Desde que cheguei aqui tenho-me alegrado na expectativa de encontrar um campo para pregação do Evangelho nesta cidade. [...] Já fiz todas as indagações possíveis; a maioria das opiniões é favorável à realização da tentativa, mas só se pode adquirir certeza experimentando. [...] Creio que se deve tentar. Se orando pela direção divina, minha opinião persistir, esforçar-me-ei para dar inicio ao trabalho. O clima aqui é bastante agradável e o custo de vida muito menor. Caso pudéssemos ocupar dois pontos, não hesitaria em estabelecer um em São Paulo, pois assim poderíamos também aproveitar a mudança de clima. [...] (RIZZO, 1962, p. 73).
Mas coube ao Rev. Alexander L. Bleckford a iniciativa pioneira de implantar e desenvolver o presbiterianismo na cidade paulistana. Após o retorno de A. G. Simonton dos Estados Unidos em 16 de julho de 1863, o reverendo Blackford recebeu autorização da Junta Missionária Norte Americana para dar início ao trabalho missionário na Província de São Paulo.[4]


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Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
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______________
[1] A cidade de São Paulo em que D. Pedro I se hospedou e que foi palco da proclamação da Independência do Brasil,  na descrição do historiador Afonso A. de Freitas, era tão somente: "...uma pequena cidade, quase aldeia, acanhada e de ruas pouco extensas, estreitas e tortuosas. Abrigava na área urbana somente 6.920 habitantes e incluindo sua zona rural não ultrapassaria 20.000 moradores. Desde esta época a cidade revela sua vocação para participar dos grandes momentos da História do país, com sua elite provinciana orgulhosa que, "apesar do isolamento, acompanhava com interesse as grandes transformações na Europa e nos Estados Unidos. ....os paulistas do começo do século 19 estavam longe de serem todos matutos ou caipiras." (GOMES, Laurentino. 1822 - como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, p. 103). 
[2] Maria Lucília Viveiros Araújo em seu excelente livro “Os caminhos da riqueza dos paulistanos na primeira metade do Oitocentos” (2006), a partir de sua tese de doutoramento, orientada pelo Prof. Dr. Nelson Hideiki Nozoe, reformula o mito da pobreza paulistana na primeira metade do século XIX, pois segundo ela o ciclo do açúcar também se fez acompanhar de uma série de atividades econômicas complementares e paralelas gerando riqueza e progresso. Herança da historiografia tradicional, esse mito, que prevaleceu até a década de 1960-70, costumava opor a pobreza paulistana à opulência trazida com o boom do café, sugerindo a existência de um corte profundo entre os dois ciclos.
[3] “O fenômeno das estradas de ferro foi sem dúvida o mais importante, do ponto de vista da irradiação de um certo padrão de vida urbana, de capitalização e de articulação do resto da Província com São Paulo e com os principais centros mundiais. Dele participaram capitais internacionais, mão de obra nacional e de imigrantes, além de iniciativas das lideranças locais. A Companhia Paulista (empresa brasileira particular), ligando a São Paulo as cidades de Jundiaí, Campinas, Limeira, Rio Claro e Descalvado; a Companhia Ituana, chegando a Piracicaba; a Sorocabana, em direção a Sorocaba, Ipanema e Tietê; a Mojiana, abrangendo de Campinas a Mogi-Mirim, Amparo, Casa Branca, Ribeirão Preto e Poços de Caldas (incorporando o Sul de Minas à esfera econômica de São Paulo) demarcariam o novo sistema econômico-social, com fortes implicações políticas regionais e nacionais”. (MOTA, 2004, p. 14)
[4] Desde o primeiro momento outros dois nomes estão vinculados diretamente a implantação e desenvolvimento do presbiterianismo em São Paulo e outras cidades do interior e do litoral paulista, são eles Francis Joseph Christopher Schneider, alemão de origem, mas naturalizado norte-americano, e que se tornou o terceiro missionário presbiteriano no Brasil e George Whitehill Chamberlain que visitando o Brasil e tomando conhecimento do trabalho realizado por Simonton e Blackford sente-se compelido a permanecer e participar desta obra, e posteriormente sua esposa Mary Ann Annesley.

sábado, 16 de novembro de 2013

PERSONAGENS DO PROTESTANTISMO - Calvino


Nascimento:           10 de Julho de 1509 - Noyon, Picardia - França
Morte:            27 de maio de 1564 (54 anos) - Genebra, Cantão de Genebra - Suíça.
Nacionalidade:       Francesa
Cônjuge:      Idelette de Bure (morreu em  29 de Março de 1549 em Genebra - Suíça)
Principais trabalhos:        Institutas da Religião Cristã
Escola/tradição:     Calvinismo

João Calvino se tornou um dos mais importantes personagens da grande Reforma Religiosa, também conhecida como Reforma Protestante, que ocorreu no século 16 e transformou radicalmente não apenas a Igreja Cristã Ocidental, mas todas as esferas da sociedade. Os efeitos destas mudanças ainda hoje podem serem facilmente percebida e continua a produzir impactos sociais através da multiplicidade das denominações evangélicas resultantes daquela Reforma.
          Sendo francês de nascimento foi batizado com o nome de Jean Cauvin que transliterado para o latim “Calvinus” deu a origem ao nome "Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Mas apesar de francês é na Suíça, mais propriamente na cidade de Genebra, que ele vai se constituir em uma das influências mais preponderante tanto em intensidade quanto em extensão do movimento reformador.
            Calvino tem sua formação acadêmica originalmente na área do Direito e participa com empenho do movimento denominado humanista e não chegou a ser ordenado sacerdote. Ainda na França envolve-se com o movimento reformista [entre 1532 e 1533] iniciada por Lutero na Alemanha.[1] 
Sua chegada em Genebra vai ocorrer, quase acidentalmente, somente em (1536) onde é constrangido a permanecer pelo reformador Guillaume Farel e este acontecimento mudará completamente sua vida e sua obra, bem como os desdobramentos do movimento reformado. A cidade de Genebra tornou-se no transcorrer dos anos e sob a orientação e influência de Calvino em um dos maiores centros do protestantismo Europeu.
Sua obra mais teológica “As Institutas da Religião Cristã” cuja primeira edição (1536 – Basileia) antecede sua permanência em Genebra e se constitui na obra fundante do seguimento reformado que será denominado de calvinismo, ainda que ele sempre se posicionasse claramente contra esta nomenclatura.
O caso mais polêmico envolvendo a figura de Calvino em Genebra se relaciona ao caso de Miguel Serveto, cientista e reformador, condenado a morrer na fogueira por suas ideias teológicas pelo Conselho de Genebra no qual Calvino tinha naquele momento grande influência. Apesar de receber todo o ônus desta execução, Calvino havia consultado outros líderes  reformados da Alemanha e da Suíça, que deram amplo aval para que a sentença fosse promulgada.
Uma das preocupações de Calvino foi com a questão da educação da qual ele foi um dos pioneiros do ensino obrigatório e das escolas públicas. Iniciou o que ficou conhecido como Academia de Genebra (1559) e que foi a fonte aonde centenas de reformados exilados em Genebra estudaram e retornaram aos seus países de origem onde implantaram os princípios ali apreendidos. A influência de sua teologia e estrutura eclesiástica representativa, denominada de presbiteriana, pela qual a comunidade (igreja) seria administrada por um Conselho de presbítero eleitos pelos membros, espalhou-se por diversos países e regiões: países Baixos (Bélgica e Holanda), Inglaterra, Escócia (o primeiro país a adotar o sistema presbiteriano de igreja, bem como a teologia calvinista) e Estados Unidos, que foi colonizado pelos diversos grupos dissidentes dentro da IgrejaAnglicana (Inglesa), que em sua maioria adotavam o sistema calvinista. Serão missionários advindos dos Estados Unidos que implantaram as denominações reformadas no Brasil.



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Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Reflexão Bíblica







Referências Bibliográficas

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, v. 1. São Paulo: Hagnos, 2006. 
MCGRANTH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
DANIEL-ROPS. A igreja da renascença e da reforma I: a reforma protestante. São Paulo: Ed. Quadrante, 1996, p. 435.
FISHER, Jorge P. Historia de la reforma Barcelona: Ed. CLIE, 1984.
           





[1] Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Origem da Igreja Cristã de São Paulo e a contribuição de alguns de seus membros para a formação da FFLCH/USP. Dissertação (Mestrado)

Rev. Othoniel Motta

Implantado no Brasil em 1859, com a chegada de A.G. Simonton, o Presbiterianismo, na sua histórica trajetória, passou por embates internos que não o fizeram soçobrar. Em 1903, um primeiro Cisma fez surgir a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, que saía da Igreja Presbiteriana do Brasil (Igreja Cristã Presbiteriana). No final da década de 30 do século passado, um novo conflito, de ordem  teológica, abalou a vida da IPB. Desta feita, seu objeto e seus debates se centravam na doutrina das "Penas Eternas", que desembocaria, em fevereiro de 1942, em uma nova ruptura. No grupo de membros que agora deixava a IPIB havia duas facções; uma conservadora outra modernista ou liberal. Estes se organizaram a Igreja Cristã de São Paulo, de membresia intelectualizada;  aqueles formaram a Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil, naturalmente de cunho ortodoxo. Esta dissertação, após estudar estes fatos, também trata da contribuição de alguns membros da ICSP à educação e cultura, especialmente como professores da Universidade de São Paulo.

Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Palavras-chave: História; História da Igreja; Presbiterianismo; Intelectualismo; Confessionalismo; Penas Eternas; Liberalismo Teológico; Fundamentalismo Teológico; educação; Influência; Liberdade de Religião.

COSTA, Flávio Antônio Alves da. Origem da Igreja Cristã de São Paulo e a contribuição de alguns de seus membros para a formação da FFLCH/USP - uma expressão de liberdade religiosa. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007. [Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira].

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A Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil - uma questão doutrinária. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/2013/11/fichario-dissertacao-igreja.html
Origem da Igreja Cristã de São Paulo e a contribuição de alguns de seus membros para a formação da FFLCH/USP - uma expressão de liberdade religiosa. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/2013/11/fichario-dissertacao-origem-da-igreja.html


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

VERBETE - "Protestantismo"

O termo "protestantismo" esta ligado historicamente à grande Reforma Religiosa produzida no século 16 e que recebeu a alcunha de Protestante em decorrência do momento de ruptura dos Príncipes alemães que se posicionaram a favor das teses propostas por Martinho Lutero que propunha uma reforma na Igreja Cristã. O movimento protestante expandiu-se rapidamente por diversos países e outras figuras somaram à de Lutero, como de Zwínglio e João Calvino, na Suíça. Forma-se então duas expressões protestante: o Luteranismo, que mantém as propostas de Lutero e o Calvinismo que adota as formulações teológicas de Calvino. Na Inglaterra a reforma religiosa veio não pela via teológica mas pelos instrumentos políticos dentro dos interesses do rei Henrique VIII, mas após diversas reviravoltas foi somente no reinado de Elizabeth I que se estabeleceu definitivamente as bases teológicas e eclesiásticas Igreja Anglicana, que fica no meio entre as propostas dos reformadores (inicialmente luterana e posteriormente calvinista) e o próprio catolicismo, denominada de via média. Dentro do anglicanismo surgem movimentos divergentes da via média, pois exigiam uma reforma mais radical com o catolicismo e ficaram conhecidos como Puritanos, que tornou-se um guarda-chuva para agrupar alguns movimentos de influência teológica calvinista denominados de presbiterianos, que defendiam um governo eclesiástico representativo através da eleição de presbíteros; os congregacionais que defendiam um governo eclesiástico gerido pelas assembleias; os batistas que defendiam que o batismo deveria ser exclusivamente por imersão; posteriormente surge ainda na Inglaterra o movimento metodista, com influência da teologia arminiana, divergente das postulações calvinistas. Não encontrando espaço amplo para expressarem suas propostas estes grupos iniciam uma emigração maciça para a chamada Nova Inglaterra que após a Independência torna-se os Estados Unidos da América. Já transmutadas em novas igrejas e/ou denominações estas dissidências se expandem além das fronteiras americanas e nos anos finais do século 19 começam a se transplantarem para a América Latina e para o Brasil. Os metodistas, congregacionais, presbiterianos e batistas, juntamente com os anglicanos e luteranos, haverão de compor o chamado protestantismo brasileiro histórico. Assim, quando se utiliza o termo "protestantismo" no Brasil é uma referência histórica a este conjunto de denominações acentuadamente de orgiem inglesa e americana, com uma pitada alemã luterana. Em  um momento historicamente posterior o termo "protestantismo" no Brasil vai abrangendo os mais diversos movimentos evangélicos que vão surgindo no país e hoje muitos estudiosos tem utilizado a expressão "protestantismo brasileiro" para abranger toda esta gama de denominações cristãs não católicas estabelecidas no país.

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VERBETE: Mártir – Origem e Significado

Referências Bibliográficas
ARMESTO-FERNÁNDES, Felipe e WILSON, Derek. Reforma: o cristianismo e o mundo 1500-2000. Trad. Celina Cavalcante Falck. Rio deJaneiro: Record, 1997.
BOISSET, J. História do protestantismo. São Paulo: Difusão Européia, 1971.
CARTER, Lindberg. Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001. [trad. Luís Henrique Dreher e Luís Marcos Sander].
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006.
COLLINSON, Patrick. A Reforma. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2006.
DANIEL-ROPS. A igreja da renascença e da reforma I: a reforma protestante.  São Paulo: QUADRANTE, 1996.
DREHER, Martin Norberto. A igreja latino-americana no contexto mundial. São Leopoldo: Sinodal, 1999. (Historia da Igreja; v. 4)
DUNSTAN, J. Leslie. Protestantismo. Lisboa, Verbo, 1980.
GONZALES, Justo L. Uma história do pensamento cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
HUDSON, Winthrop. Denominationalism as a basis for ecumenicity: a seventeenth century conception. Church history. Vol. 24, no. 1 (março, 1966).
LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma história do cristianismo - volume II: 1500 a 1975 a.D. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.
LINDSAY, Tomas M. Historia de la Reforma, v.2, ed. La Aurora e Casa unida de Publicaciones, 1959.
McGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo, Cultura Cristã, 2004.MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da teologia histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. (Coleção Teologia Brasileira)
MENDONÇA, Antonio G. O celeste porvir: a inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Paulinas, 1984.
OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. São Paulo: Editora
Reflexão. 2013.
POLLARD, Albert Frederick. Thomas Cranmer and the and the english reformation (1489-1556). London : G. P. Putnam’s Sons, 1906.
REYLI, Alexander Duncan. História Documental do Protestantismo no Brasil. 3ª ed. São Paulo: ASTE, 2003.
SALVADOR, José Gonçalves. Arminianismo e Metodismo: Subsídios para
o Estudo da História das Doutrinas Cristãs. São Paulo: Junta Geral de
Educação Cristã da Igreja Metodista do Brasil, S/D.
SCHÜLER, Arnaldo. Dicionário Enciclopédico de Teologia. Rio Grande do Sul: Concórdia Editora e Editora Ulbra, 2002.
WYNKOOP, Mildred Bangs. Fundamentos da teologia Armínio Wesleyana. Tradução Eduardo Rodrigues da Silva. Campinas (SP): Casa Nazarena Publicações, 2004.

Zabriskie, Alexander C. Anglican Evangelicalism. Philadelphia, 1999.


domingo, 10 de novembro de 2013

PROTESTANTISMO BRASILEIRO: Concisa Revisão Bibliográfica 2

Autores Brasilianistas

     Como visto no artigo anterior, a historiografia do protestantismo brasileiro é deficitária, todavia, este panorama esta sendo alterado de forma paulatina e positivamente. Ainda que de forma limitada verificaremos que há um crescente interesse em resgatar a importância desta forma religiosa cristã que ultrapassou os 150 anos de presença no país e que estatisticamente tem expandido suas fronteiras a cada recenseamento, de maneira que não é mais possível ignora-la ou trata-la como um fator irrelevante na formação da sociedade brasileira. Lembrando que esta ignorância ou esquecimento histórico não é de todo casual, mas contém um forte ingrediente politico e ideológico, visto que a predominância católica na consciência brasileira somente agora começa ser rompida.

     Os três primeiros trabalhos de teor acadêmico que demarcam uma mudança de paradigma na pesquisa religiosa brasileira em que o protestantismo começa a ser tratado como um fator social importante é realizado por dois brasilianistas – Émile G. Léonard e Richard Graham, estes mais conhecidos, e um terceiro William Read menos citado.

     O primeiro deles, Léonard, escreveu uma obra importante “O Protestantismo Brasileiro” no sentido de ser a primeira a ser escrita para “fora”, ou seja, ele escreve visando um público fora dos guetos religiosos protestantes. Ele era francês e veio ao país para lecionar na cadeira de História da Universidade de São Paulo (USP), era um acadêmico prestigiado e não era pastor. Desta forma, seu trabalho foi originalmente publicado, ainda na década de cinquenta, em oito números da Revista de História da Universidade de São Paulo[1], portanto, dentro da academia, e somente em 1963 terá sua primeira edição em formato de livro. Esta obra, até pela ausência de outras, veio a se constituir em referência obrigatória para os protestantes brasileiros, o que acabou restringindo suas propostas ao contorno eclesiástico. Sua proposta de “um estudo de eclesiologia e história social” não foi plenamente concretizada, provavelmente pelo pouco tempo em que ele morou no Brasil de apenas três anos, o que limitou sua capacidade de aprofundar-se na história do Brasil e assim fazer os links sociais e culturais do protestantismo desenvolvido no país. Apesar de já ter sido utilizada é a partir desta obra de Léonard que a expressão “protestantismo brasileiro” passa a ser utilizada para expressar o cristianismo não católico no Brasil.

     O segundo foi Richard Graham que vai escrever uma obra importante para uma compreensão de como o protestantismo se estabelece no Brasil. Sua ligação com o nosso país vem desde final do século XIX, poucos meses antes da queda do Império, quando seu avô (1889) e posteriormente seu pai (1910) vieram desenvolver atividades missionárias. Sua obra “Grã-Bretanha e o início da modernização do Brasil” tem o mérito de identificar a índole e o espírito do protestantismo implantado aqui e que vai permear o pensar e o fazer protestante nacional. Ele destaca a bipolaridade da atuação dos ingleses na modernização do país: os aspectos econômicos, nas importações de máquinas e know-how para construção e expansão do parque industrial brasileiro e embutido nesta ação puramente comercial, os princípios religiosos protestantes acentuadamente o da salvação como sendo uma ação individual e não eclesiástica como no catolicismo. Para o autor ao menos duas características da pregação protestante permearam a sociedade brasileira e contribuíram para a modernização do país: o primeiro é positivo, a noção do valor e da liberdade do indivíduo; o segundo trás diversos aspectos negativos para a religião protestante que é o conceito de secularização, reforçando ou sendo reforçado pelo positivismo que por aqui também estava fortemente implantado e que a partir do advento da República torna-se permanente.

     Ainda em relação aos autores brasilianistas podemos incluir a importante obra “Fermento religioso nas massas do Brasil” (1967) de William Read, que trabalhou no Brasil pela Missão Presbiteriana do Brasil Central desde 1952. Ele levanta reflexões valiosas em torno do problema da expansão das denominações protestantes no Brasil, oferecendo diversos e importantes dados estatísticos bem como transcrição de documentos primários de grande importância para o pesquisador.



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Referências Bibliográficas

GRAHAM, Richard. Grã-Bretanha e o início da modernização do Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1973.
LÉONARD, Émile G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro e São Paulo: JERP/ASTE, 1981.
REILY, Duncan Alexander. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 3a. edição, 2003.

_________________________________
[1] Os originais, traduzidos pelo Prof. Linneu de Camargo Schützer, do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

A Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil - Uma questão doutrinária Dissertação (Mestrado)


A implantação do Protestantismo, particularmente do Presbiterianismo, em nossa Pátria foi iniciada pelo missionário Rev. Ashbel Green Simonton no ano de 1859. No quadro existente do século XIX, ainda que o Catolicismo romano estivesse desorganizado e quase na condição de abandono na Sé Romana, mesmo assim era a maior força religiosa. O Presbiterianismo de missão passa a ser um contraponto de opção para os patrícios.
A trajetória do Presbiterianismo, no seu longo processo de implantação, desenvolvimento e estruturação, é marcada por sucessos e rupturas internas. Em 1888, o Presbiterianismo torna-se autônomo administrativamente, dando origem a Igreja Presbiteriana do Brasil. Contudo, o Presbiterianismo não se mantém como um movimento protestante homogêneo  Em 1903, ocorre o primeiro cisma e assim surge, no cenário nacional brasileiro, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Passados alguns anos, mais precisamente trinta e sete anos, é deflagrado um debate teológico dentro daquela igreja. Os debates representam as tendências e as correntes já existentes ali. O elemento que desencadeia a ruptura é a chamada doutrina das "Penas Eternas".
Além da "pedra de toque" apresentada acima, a presente dissertação apresentará outros aspectos que indiretamente contribuíram para a organização da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil; e como esta Igreja se consolidou no cenário do Protestantismo nacional.

Palavras-chave: História; História da Igreja; Presbiterianismo de Missão; Intelectualismo; Confessionalismo; Penas Eternas; Liberalismo Teológico; Fundamentalismo Teológico.

COSTA, Flávio Antônio Alves da. A Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil - uma questão doutrinária. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007. [Orientador: Prof. Dr. Antonio Gouvêa Mendonça].

Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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