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domingo, 10 de novembro de 2013

PROTESTANTISMO BRASILEIRO: Concisa Revisão Bibliográfica 2

Autores Brasilianistas

     Como visto no artigo anterior, a historiografia do protestantismo brasileiro é deficitária, todavia, este panorama esta sendo alterado de forma paulatina e positivamente. Ainda que de forma limitada verificaremos que há um crescente interesse em resgatar a importância desta forma religiosa cristã que ultrapassou os 150 anos de presença no país e que estatisticamente tem expandido suas fronteiras a cada recenseamento, de maneira que não é mais possível ignora-la ou trata-la como um fator irrelevante na formação da sociedade brasileira. Lembrando que esta ignorância ou esquecimento histórico não é de todo casual, mas contém um forte ingrediente politico e ideológico, visto que a predominância católica na consciência brasileira somente agora começa ser rompida.

     Os três primeiros trabalhos de teor acadêmico que demarcam uma mudança de paradigma na pesquisa religiosa brasileira em que o protestantismo começa a ser tratado como um fator social importante é realizado por dois brasilianistas – Émile G. Léonard e Richard Graham, estes mais conhecidos, e um terceiro William Read menos citado.

     O primeiro deles, Léonard, escreveu uma obra importante “O Protestantismo Brasileiro” no sentido de ser a primeira a ser escrita para “fora”, ou seja, ele escreve visando um público fora dos guetos religiosos protestantes. Ele era francês e veio ao país para lecionar na cadeira de História da Universidade de São Paulo (USP), era um acadêmico prestigiado e não era pastor. Desta forma, seu trabalho foi originalmente publicado, ainda na década de cinquenta, em oito números da Revista de História da Universidade de São Paulo[1], portanto, dentro da academia, e somente em 1963 terá sua primeira edição em formato de livro. Esta obra, até pela ausência de outras, veio a se constituir em referência obrigatória para os protestantes brasileiros, o que acabou restringindo suas propostas ao contorno eclesiástico. Sua proposta de “um estudo de eclesiologia e história social” não foi plenamente concretizada, provavelmente pelo pouco tempo em que ele morou no Brasil de apenas três anos, o que limitou sua capacidade de aprofundar-se na história do Brasil e assim fazer os links sociais e culturais do protestantismo desenvolvido no país. Apesar de já ter sido utilizada é a partir desta obra de Léonard que a expressão “protestantismo brasileiro” passa a ser utilizada para expressar o cristianismo não católico no Brasil.

     O segundo foi Richard Graham que vai escrever uma obra importante para uma compreensão de como o protestantismo se estabelece no Brasil. Sua ligação com o nosso país vem desde final do século XIX, poucos meses antes da queda do Império, quando seu avô (1889) e posteriormente seu pai (1910) vieram desenvolver atividades missionárias. Sua obra “Grã-Bretanha e o início da modernização do Brasil” tem o mérito de identificar a índole e o espírito do protestantismo implantado aqui e que vai permear o pensar e o fazer protestante nacional. Ele destaca a bipolaridade da atuação dos ingleses na modernização do país: os aspectos econômicos, nas importações de máquinas e know-how para construção e expansão do parque industrial brasileiro e embutido nesta ação puramente comercial, os princípios religiosos protestantes acentuadamente o da salvação como sendo uma ação individual e não eclesiástica como no catolicismo. Para o autor ao menos duas características da pregação protestante permearam a sociedade brasileira e contribuíram para a modernização do país: o primeiro é positivo, a noção do valor e da liberdade do indivíduo; o segundo trás diversos aspectos negativos para a religião protestante que é o conceito de secularização, reforçando ou sendo reforçado pelo positivismo que por aqui também estava fortemente implantado e que a partir do advento da República torna-se permanente.

     Ainda em relação aos autores brasilianistas podemos incluir a importante obra “Fermento religioso nas massas do Brasil” (1967) de William Read, que trabalhou no Brasil pela Missão Presbiteriana do Brasil Central desde 1952. Ele levanta reflexões valiosas em torno do problema da expansão das denominações protestantes no Brasil, oferecendo diversos e importantes dados estatísticos bem como transcrição de documentos primários de grande importância para o pesquisador.



Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
ivanpgds@gmail.com
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Referências Bibliográficas

GRAHAM, Richard. Grã-Bretanha e o início da modernização do Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1973.
LÉONARD, Émile G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro e São Paulo: JERP/ASTE, 1981.
REILY, Duncan Alexander. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 3a. edição, 2003.

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[1] Os originais, traduzidos pelo Prof. Linneu de Camargo Schützer, do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

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