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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Desenvolvimento da Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo


Edificio na Rua São João que abriga a Escola Americana
e a Primeira Igreja Presbiteriana da cidade São Paulo
Ainda funcionando no endereço da Rua São José, nº 1, o presbiterianismo experimenta um de seus momentos mais tristes – a morte precoce de seu missionário pioneiro A. G. Simonton, com apenas 34 anos. Aqui seu corpo foi velado e dali partiu o cortejo fúnebre que descendo a Rua Cásper Líbero, sobe a São João entrando pela Avenida Ipiranga para subir a Rua da Consolação até o Cemitério dos Protestantes onde foi sepultado. Até mesmo um jornal católico “O Apóstolo” reconhece o esforço sincero das atividades desenvolvidas pelo jovem missionário “... sempre mantivemos o devido respeito por nosso ilustre adversário, e é de coração nossa tristeza pela morte do ilustre editor da Imprensa Evangélica” (FERREIRA, 1992, p. 89 – negrito meu). Nunca é desnecessário registrar o resumo da obra desse jovem missionário pioneiro do presbiterianismo no brasileiro:
Em oito anos de ministério no Brasil, além do aprendizado da língua, obteve bom saldo: Recebeu oitenta pessoas por profissão de fé, organizou a primeira igreja [RJ], a primeira escola paroquial, o primeiro jornal [Imprensa Evangélica], o primeiro presbitério, o primeiro seminário... Deixou dezenas de sermões escritos, folhetos, traduções, além de parte de um comentário de Mateus... (FERREIRA, 1992, p. 89).
Com a morte precoce do jovem missionário Simonton, o Rev. Alexander L. Bleckford necessita retornar ao Rio de Janeiro para assumir o pastorado da então Primeira Igreja Presbiteriana. Assume o pastorado da igreja paulista o Rev. George W. Chamberlain (1867 a 1876), sendo que o Rev. John Betty Hovell pastoreia a igreja no período de agosto de 1875 a dezembro de 1876, em decorrência da viagem de Chamberlain aos Estados Unidos para complementação de seus estudos teológicos.
As oportunidades foram surgindo e sendo bem aproveitadas. Em 1875 adquire-se uma propriedade, no que viria a ser o cruzamento mais famoso da cidade de São Paulo, na “rua de S. João, esquina da rua do Ypiranga”, estendendo-se “os fundos até a rua 24 de Maio” (Lessa, 1938, p.131). Isso foi possível mediante uma campanha financeira promovida no Brasil, mas certamente contando com ofertas oriundas dos Estados Unidos coletadas por Chamberlain que por lá estava. Em 03 de dezembro de 1876 professa a fé na forma presbiteriana reformada a senhora Henriqueta Isaura do Paraíso e Silva, então esposa do Sr. José Zacarias de Miranda e Silva, tendo por profissão o ofício de alfaiate e músico, que virá a ser um ministro ordenado da Igreja Presbiteriana brasileira.[1]
O objetivo desta aquisição era a construção de um templo e de uma escola e para isso será construindo um sobrado. Em 25 de janeiro de 1883 ocorre o “Lançamento da Pedra Memorial” do templo que foi erguido na Rua 24 de Maio. Antes de completar um ano, no dia 06 de janeiro de 1884, celebra-se o primeiro culto no novo templo, seguido uma semana intensa de atividades para celebrar essa nova “Casa de Oração da Egreja Presbyteriana” (Lessa, 1938, p. 224).

Edificio na Rua São João que abriga a Escola Americana
e a Primeira Igreja Presbiteriana da cidade São Paulo

Neste ponto estratégico da cidade funcionou conjunta e harmoniosamente uma das mais profícuas dobradinhas presbiteriana – o templo e a escola. Os cultos eram realizados na ‘sala grande’, que devia ser auditório da Escola Americana. Os assentos eram as carteiras usadas pelos alunos nos dia úteis. E Soares sublinha bem: “Houve inversão de papeis da Rua de São José para a São João: na primeira, a igreja e a residência dos pastores abrigavam a escola, enquanto que na São João a Escola Americana abrigava a Igreja Presbiteriana”. (2009, p. 188).
A Igreja Presbiteriana de São Paulo funciona por treze anos na Rua São José, permanecendo na São João por oito anos (1876 a 1884), ocupando então o edifício construído na Rua 24 de Maio, bem próximo da Ipiranga, onde haverá de permanecer até 1903, quando por causa do grande cisma, passará a fazer parte da Igreja Presbiteriana Independente que utilizara este prédio até 1941, quando muda-se para a Rua Nestor Pestana, próximo da Consolação, onde permanece até os dias atuais. A Escola Americana, embrionária da Universidade Presbiteriana Mackenzie, muda-se para uma propriedade própria adquirida nas proximidades da Consolação onde permanece estabelecida.
Um dos que mais se esforçaram para a consolidação deste trabalho foi o Rev. Chamberlain, tendo também o apoio posterior do Rev. Carlos Eduardo Pereira, que fora convencido pelo primeiro a seguir o ministério pastoral e não a carreira jurídica como era seu desejo inicial (MATOS, 2008, p. 146). Este pastor brasileiro haverá de assumir um papel proeminente nos acontecimentos posteriores e que acabara por produzir no meio do presbiterianismo nacional seu primeiro grande cisma eclesiástico.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
ivanpgds@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/

Referências Bibliográficas
CLARK, Jorge Uilson. Presbiterianismo do Sul em Campinas: primórdio da educação liberal. Tese (Doutorado) Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação: Campinas, 2005. Disponível em:http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000351752&opt=4. Acesso em: 21/05/2013.
FERREIRA, Julio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. 2ª Ed. São Paulo: CEP, 1992.
GUEDES, Ivan Pereira. O protestantismo na cidade de São Paulo – primórdios e desenvolvimento do presbiterianismo. Alemanha: Novas Edições Acadêmicas, 2014.
LESSA, Vicente Themudo. Annaes da Primeira Egreja Presbyteriana de São Paulo – Subsídios para a História do Presbiterianismo Brasileiro. São Paulo: Ed. Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, 1938.
OLIVETTI, Odair. Igreja Presbiteriana de São Paulo (1900-2000) – na esteira dos passos de Deus. São Paulo: IPUSP/Editora Cultura Cristã, 2000.
RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo no Brasil monárquico (1822-1888): aspectos culturais da aceitação do protestantismo no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1973.
SOARES, Caleb. 150 Anos de paixão missionária – o presbiterianismo no Brasil. Santos (SP): Instituto de Pedagogia Cristã, 2009.

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[1] Vai suceder e continuar o trabalho profícuo do evangelista Antônio Pedro, em um vasto campo que se estendia até a cidade de Faxina, hoje Itapeva.

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