O
termo "anglicano" se refere aos dogmas teológicos, estrutura eclesiástica
e práticas da Igreja da Inglaterra. A Igreja Anglicana alega sucessão
apostólica dos primeiros seguidores de Jesus para a ordenação do primeiro
Arcebispo de Cantuária, St. Agostinho,[1] no
século VI. Mas historicamente, a formação de uma igreja nacional inglesa
distinta da Igreja Católica Romana ocorreu no século XVI, na década de 1530, entre
as convulsões causadas pela Reforma Religiosa e/ou Reforma Protestante. Entre
outras razões estava o fato de que o rei Henry VIII estava determinado a buscar
a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, mas como a Igreja Católica
Romana estava resistindo ele assina o chamado Ato de Supremacia, tornando-se o
chefe da Igreja da Inglaterra.
O
Henrique VIII nunca deixou de ser católico, apenas se utilizou do movimento
Reformado para alcançar sua autonomia eclesiástica. No entanto, a sua teologia
e prática começou a tomar um rumo mais protestante, sob a liderança de Thomas
Cranmer, a quem Henrique havia nomeado arcebispo de Cantuária em 1533. Sob
Cranmer, o celibato do sacerdócio foi abolido, bem como a doutrina da
transubstanciação. Após a morte de Henrique VIII, seu filho Eduardo VI, que
teve um breve reinado, orientado por Cranmer e outros continuou a direcionar a
igreja em uma direção protestante calvinista e produziu o Livro de Oração Comum
(1549,1552), que não só estabelecia a liturgia da igreja, mas servia como manual
de fé e prática de vida cristã Anglicana. Com a precoce morte de Eduardo, o Anglicanismo
foi abolido durante o reinado da rainha Maria I (1553-58), que retorna às
origens católicas romanas, mas quando a rainha Elizabete I a sucede no trono inglês,
ela não apenas restaura a Igreja da Inglaterra, como a estabelece
definitivamente, nos moldes que permanecem até hoje.
Em
seu longo e complexo reinado Elizabete enfrentou as reivindicações radicais dos
dissidentes puritanos, que esperavam reformar a igreja no modelo Presbiteriano,
e simultaneamente os clérigos católicos que buscavam uma restauração da Igreja
Católica como a igreja nacional. Diante destes dois extremos irreconciliáveis
ela propôs uma via média, conhecido como o Acordo Isabelino, oferecendo um
caminho novo entre essas forças antagônicas.
Resumidamente
ela propôs que a Igreja Anglicana continuaria a ser um episcopado; ou seja, ele
continuaria a ser regida por arcebispos e bispos. Todos os cultos seguiriam uma
forma litúrgica fixa estabelecida no Livro de Oração Comum, mantendo alguns dos
elementos tradicionais da liturgia Católica, incluindo ajoelhar, genuflexão, e o
uso de vestimentas e roupas clericais pelo padre. Por outro lado, a igreja não
permitiria que os seus membros cressem em qualquer coisa contrária às
Escrituras. Evidentemente que nenhum dos extremos ficaram satisfeitos, mas o
povo aprovou estas reformas e a Igreja da Inglaterra permaneceu. Os princípios
de fé e práticas religiosas básicas do Anglicanismo foram estabelecidos em três
documentos fundamentais: os Trinta e Nove Artigos, O Ato de Supremacia, e o Ato de Uniformidade.
Sob
Tiago I e Charles I, a Igreja Anglicana permaneceu a igreja nacional da
Inglaterra e foi mantido de forma ténue seu caminho intermediário entre o
catolicismo e puritanismo. Durante o reinado de Carlos I, as políticas
restritivas do arcebispo de Cantuária William Laud[2] acabaram
atiçando os puritanos, o que desembocou em uma guerra civil/religiosa inglesa.
Durante o Interregnum, o Partido dos Puritanos assumiu o poder e efetivamente
aboliu o anglicanismo como a igreja nacional. Mas a restauração da monarquia em
1660 também trouxe a restauração da Igreja Anglicana. O Ato da Uniformidade, em
1662, bem como outras ordenanças, produziu milhares de ministros dissidentes.
Somente com a aprovação da Lei de Tolerância em 1690 a Igreja Anglicana começa
a assumir sua forma atual, ainda a igreja nacional, mas não a única igreja
exclusiva da Inglaterra.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Reflexão Bíblica
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[1] Agostinho
de Cantuária (Roma, primeiro terço do século VI – Cantuária, provavelmente em
26 de maio de 604) foi um monge beneditino que se tornou o primeiro arcebispo
de Cantuária em 597. Ele é considerado o "Apóstolo dos ingleses" e o
fundador da Igreja da Inglaterra.
[2]
Em
1633, William Laud assumiu o cargo de arcebispo de Cantuária e foi executado em
1645 como traidor, após processo de impeachment em que foi acusado de tentar
introduzir o papismo na Inglaterra.