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terça-feira, 6 de setembro de 2016

DIDAQUÊ: Introdução - O Manual Mais Antigo da Igreja Cristã

Qual a razão pela qual um pequeno e muito antigo documento anônimo, de pouco mais de dez páginas tem chamado tanta atenção. A resposta é que a Didaquê preenche uma lacuna documental-histórico do período pós-apostólica (após a destruição de Jerusalém 70 d.C.) e meados do segundo século, um dos períodos mais obscuros e desconhecidos da história da Igreja. A descoberta deste pequeno documento abriu muitas possibilidades para se encontrar respostas para algumas das questões históricas desse período eclesiástico da Igreja.
A Didaquê faz parte permanente em cada coleção dos Padres Apostólicos, em cada pesquisa sobre o Canon do Novo Testamento, o conteúdo do ensino, do culto primitivo e da disciplina nas comunidades cristãs espalhadas rapidamente por todo o Império Romano, bem como contribui na elaboração de comentários dos evangelhos.
Os estudiosos, desde sua descoberta, têm se debruçado exaustivamente sobre a discussão sobre a sua autoria, quando e onde de sua composição, a sua relação com documentos cognatos, como por exemplo a Epístola de Barnabé, o Pastor Hermas, e o cinturão literário que se forma ao redor da literatura canônica.
Desde sua descoberta e posteriores edições a Didaquê têm sido usada por praticamente todas as denominações e seitas cristãs evangélicas para apoiar essa ou aquela doutrina peculiar de cada uma delas, entretanto, o valor primário dela está em seu aspecto histórico e por este prisma o documento deve ser estudado.
A Didaquê está classificada nos mesmo nível da literatura dos chamados Pais Apostólicos, contribuindo para a consolidação da Igreja Cristã. Também atesta em grau, gênero e numero a superioridade inequívoca da literatura neotestamentária em relação a todas as demais literaturas eclesiásticas posteriormente produzidas. Diante do Sermão da Montanha, ou do Evangelho Segundo João, ou a Epístola aos Gálatas, ou ainda da Epístola de Tiago do qual mais se assemelha, a relevância da Didaquê assume seu valor diminuto.
Em nenhum momento a Didaquê reivindica uma autoridade apostólica; em seu silêncio reivindicatório assume ser um extrato, produzido por seu autor desconhecido, do que ele havia aprendido e agora utiliza para instruir a outros sobre o que ele cria ser fielmente o ensino dos apóstolos.  É um documento pós apostólico, mas não pseudo-apostólico, podendo desta forma assumir seu lugar entre os documentos produzidos originalmente pelos chamados Pais Apostólicos como Clemente de Roma, Policarpo, Inácio, Hermas. Na verdade, a Didaquê preenche a lacuna entre o período apostólico e dos patrísticos, assim como a literatura apócrifa do Antigo Testamento ocupa o espaço do chamado período interbíblico de Malaquias a João Batista.

O Título
            O termo Didaquê (Διδαχή) é derivado de Atos 2.42 onde se registra que os primeiros cristãos “perseveravam no ensino (doutrina) dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações”. É possível compreendê-la também como uma espécie de “Credo dos Apóstolos”, em seu conteúdo e não em sua forma.
            Em nenhum momento o autor tem pretensões apostólicas, mas apenas de alguém que registra seus ensinos. Não reivindica lugar entre os escritos inspirados, diferenciando-se de vasta literatura similar, onde o nome de um apóstolo é introduzido com o propósito de torna-la canônica. Todavia, não se encontra na Didaquê qualquer fraude literária ou ensinos espúrios.
O manuscrito da Didaquê possui dois títulos: Um mais curto: "Ensino dos Doze Apóstolos" e um mais longo: "O ensino do Senhor para as Nações [gentios] através dos Doze Apóstolos." Neste título mais longo temos a identificação da fonte original “ensino do Senhor [Jesus]” e os leitores primários “as nações”, ou seja, os cristãos não judeus que deveriam ser preparados para receberem o batismo para se constituírem membros das comunidades cristãs, espalhadas pelas mais diversificadas nações incluídas nos domínios do Império Romano. Nessa especificação é possível identificar um diferencial entre a inclusão de gentios e judeus na comunidade cristã, em relação ao batismo, mas não em relação as demais atribuições eclesiásticas, como poderemos perceber ao abordarmos seu conteúdo.

Conteúdo e Propósito
            A Didaquê se constitui em Manual Eclesiástico abarcando a síntese do ensino Apostólico, diretrizes em relação ao culto e à disciplina, como compreendida pelo autor e certamente exercitada na comunidade da qual ele participava. 
É claramente destinada aos professores e às lideranças eclesiásticas responsáveis pelas comunidades cristãs. Quanto a esses objetivos serve plenamente: é ao mesmo tempo didático e prático, e apesar de ser sucinto é também abrangente, e está convenientemente organizado em quatro partes.
Por se constituir no manual mais antigo desse tipo, a Didaquê com toda certeza foi ao longo dos anos sofrendo diversas modificações, e, evoluindo para manuais mais completos. Ela está dividida em quatro partes que abrangem a totalidade da vida cristã:
I.  A parte doutrinal e catequética, estabelecendo o dever de todo o cristão. Caps. I-VI
II. A parte litúrgica e devocional, dando indicações para o culto cristão. Caps. VII-X e XIV.
III. A parte eclesiástica e disciplinar, exercida pela liderança constituída da Igreja. Caps. XI-XIII e XV.
IV. A parte escatológica ou esperança do cristão Caps. XVI.
          

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Reflexão Bíblica


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 A Didaquê é um dos documentos mais antigos do cristianismo (145-150 d.C.), após os textos canônicos bíblicos. Ele preenche uma importante lacuna informativa do chamado período pós-apostólico. Abaixo você tem o texto na integra e em artigo anterior você encontra informações históricas sobre sua origem e relevância.

O CAMINHO DA VIDA E O CAMINHO DA MORTE

CAPÍTULO I
1Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande diferença entre os dois. 2Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro aquilo que você não quer que façam a você.

3Este é o ensinamento derivado dessas palavras: bendiga aqueles que o amaldiçoam, reze por seus inimigos e jejue por aqueles que o perseguem. Ora, se você ama aqueles que o amam, que graça você merece? Os pagãos também não fazem o mesmo? Quanto a você, ame aqueles que o odeiam e assim você não terá nenhum inimigo.

4Não se deixe levar pelo instinto. Se alguém lhe bofeteia na face direita, ofereça-lhe também a outra face e assim você será perfeito. Se alguém o obriga a acompanhá-lo por um quilometro, acompanhe-o por dois. Se alguém lhe tira o manto, ofereça-lhe também a túnica. Se alguém toma alguma coisa que lhe pertence, não a peça de volta porque não é direito.

5Dê a quem lhe pede e não peças de volta pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Bem-aventurado aquele que dá conforme o mandamento pois será considerado inocente. Ai daquele que recebe: se pede por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebeu sem necessidade, prestará contas do motivo e da finalidade. Será posto na prisão e será interrogado sobre o que fez... e daí não sairá até que devolva o último centavo.
6Sobre isso também foi dito: que a sua esmola fique suando nas suas mãos até que você saiba para quem a está dando.


CAPÍTULO II
1O segundo mandamento da instrução é:

2Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique a magia nem a feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe e nem depois que ela tenha nascido.

3Não cobice os bens alheios, não cometa falso juramento, nem preste falso testemunho, não seja maldoso, nem vingativo.

4Não tenha duplo pensamento ou linguajar pois o duplo sentido é armadilha fatal.

5A sua palavra não deve ser em vão, mas comprovada na prática.

6Não seja avarento, nem ladrão, nem fingido, nem malicioso, nem soberbo. Não planeje o mal contra o seu próximo.

7Não odeie a ninguém, mas corrija alguns, reze por outros e ame ainda aos outros, mais até do que a si mesmo.


CAPÍTULO III
1Filho, procure evitar tudo aquilo que é mau e tudo que se parece com o mal.

2Não seja colérico porque a ira conduz à morte. Não seja ciumento também, nem briguento ou violento, pois o homicídio nasce de todas essas coisas.

3Filho, não cobice as mulheres pois a cobiça leva à fornicação. Evite falar palavras obscenas e olhar maliciosamente já que os adultérios surgem dessas coisas.

4Filho, não se aproxime da adivinhação porque ela leva à idolatria. Não pratique encantamentos, astrologia ou purificações, nem queira ver ou ouvir sobre isso, pois disso tudo nasce a idolatria.

5Filho, não seja mentiroso pois a mentira leva ao roubo. Não persiga o dinheiro nem cobice a fama porque os roubos nascem dessas coisas.

6Filho, não fale demais pois falar muito leva à blasfêmia. Não seja insolente, nem tenha mente perversa porque as blasfêmias nascem dessas coisas.

7Seja manso pois os mansos herdarão a terra.

8Seja paciente, misericordioso, sem maldade, tranquilo e bondoso. Respeite sempre as palavras que você escutou.

9Não louve a si mesmo, nem se entregue à insolência. Não se junte com os poderosos, mas aproxima dos justos e pobres.

10Aceite tudo o que acontece contigo como coisa boa e saiba que nada acontece sem a permissão de Deus.


CAPÍTULO IV
1Filho, lembre-se dia e noite daquele que prega a Palavra de Deus para você. Honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois Ele está presente o­nde a soberania do Senhor é anunciada.

2Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis para encontrar forças em suas palavras.

3Não provoque divisão. Ao contrário, reconcilia aqueles que brigam entre si. Julgue de forma justa e corrija as culpas sem distinguir as pessoas.

4Não hesite sobre o que vai acontecer.

5Não te pareças com aqueles que dão a mão quando precisam e a retiram quando devem dar.

6Se o trabalho de suas mãos te rende algo, as ofereça como reparação pelos seus pecados.

7Não hesite em dar, nem dê reclamando porque, na verdade, você sabe quem realmente pagou sua recompensa reverência, como à própria imagem de Deus.

12Deteste toda a hipocrisia e tudo aquilo que não agrada o Senhor.

13Não viole os mandamentos dos Senhor. Guarde tudo aquilo que você recebeu: não acrescente ou retire nada.

14Confesse seus pecados na reunião dos fiéis e não comece a orar estando com má consciência. Este é o caminho da vida.


CAPÍTULO V
1Este é o caminho da morte: primeiro, é mau e cheio de maldições - homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatria, magias, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, coração com duplo sentido, fraudes, orgulho, maldades, arrogância, avareza, palavras obscenas, ciúmes, insolência, altivez, ostentação e falta de temor de Deus.

2Nesse caminho trilham os perseguidores dos justos, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os ignorantes da justiça, os que não desejam o bem nem o justo julgamento, os que não praticam o bem mas o mal. A calma e a paciência estão longe deles. Estes amam as coisas vãs, são ávidos por recompensas, não se compadecem com os pobres, não se importam com os perseguidos, não reconhecem o Criador. São também assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam os necessitados, oprimem os aflitos, defendem os ricos, julgam injustamente os pobres e, finalmente, são pecadores consumados. Filho, afaste-se disso tudo.


CAPÍTULO VI
1Fique atento para que ninguém o afaste do caminho da instrução, pois quem faz isso ensina coisas que não pertencem a Deus.

2Você será perfeito se conseguir carregar todo o jugo do Senhor. Se isso não for possível, faça o que puder.

3A respeito da comida, observe o que puder. Não coma nada do que é sacrificado aos ídolos pois esse culto é destinado a deuses mortos.


A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA

CAPÍTULO VII
1Quanto ao batismo, faça assim: depois de ditas todas essas coisas, batize em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

2Se você não tiver água corrente, batize em outra água. Se não puder batizar com água fria, faça com água quente.

3Na falta de uma ou outra, derrame água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

4Antes de batizar, tanto aquele que batiza como o batizando, bem como aqueles que puderem, devem observar o jejum. Você deve ordenar ao batizando um jejum de um ou dois dias.


CAPÍTULO VIII
1Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e no dia da preparação.

2Não reze como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou em seu Evangelho. Reze assim: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai nossa dívida, assim como também perdoamos os nossos devedores e não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal porque teu é o poder e a glória para sempre".

3Rezem assim três vezes ao dia.


CAPÍTULO IX
1Celebre a Eucaristia assim:

2Diga primeiro sobre o cálice: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre".

3Depois diga sobre o pão partido: "Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.

4Da mesma forma como este pão partido havia sido semeado sobre as colinas e depois foi recolhido para se tornar um, assim também seja reunida a tua Igreja desde os confins da terra no teu Reino, porque teu é o poder e a glória, por Jesus Cristo, para sempre".

5Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: "Não dêem as coisas santas aos cães".


CAPÍTULO X
1Após ser saciado, agradeça assim:

2"Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo nome que fizeste habitar em nossos corações e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.

3Tu, Senhor o­nipotente, criaste todas as coisas por causa do teu nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, orém, deste uma comida e uma bebida espirituais e uma vida eterna através do teu servo.

4Antes de tudo, te agradecemos porque és poderoso. A ti, glória para sempre.

5Lembra-te, Senhor, da tua Igrreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu Reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre.

6Que a tua graça venha e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Venha quem é fiel, converta-se quem é infiel. Maranatha. Amém."

7Deixe os profetas agradecerem à vontade.

A VIDA EM COMUNIDADE

CAPÍTULO XI
1Se vier alguém até você e ensinar tudo o que foi dito anteriormente, deve ser acolhido.

2Mas se aquele que ensina é perverso e ensinar outra doutrina para te destruir, não lhe dê atenção. No entanto, se ele ensina para estabelecer a justiça e conhecimento do Senhor, você deve acolhê-lo como se fosse o Senhor.

3Já quanto aos apóstolos e profetas, faça conforme o princípio do Evangelho.

4Todo apóstolo que vem até você deve ser recebido como o próprio Senhor.

5Ele não deve ficar mais que um dia ou, se necessário, mais outro. Se ficar três dias é um falso profeta.

6Ao partir, o apóstolo não deve levar nada a não ser o pão necessário para chegar ao lugar o­nde deve parar. Se pedir dinheiro é um falso profeta.

7Não ponha à prova nem julgue um profeta que fala tudo sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas esse não será perdoado.

8Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É desse modo que você reconhece o falso e o verdadeiro profeta.

9Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa não deve comer dela. Caso contrário, é um falso profeta.

10Todo profeta que ensina a verdade mas não pratica o que ensina é um falso profeta.

11Todo profeta comprovado e verdadeiro, que age pelo mistério terreno da Igreja, mas que não ensina a fazer como ele faz não deverá ser julgado por você; ele será julgado por Deus. Assim fizeram também os antigos profetas.

12Se alguém disser sob inspiração: "Dê-me dinheiro" ou qualquer outra coisa, não o escutem. Porém, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.


CAPÍTULO XII

1Acolha toda aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examine para conhecê-lo, pois você tem discernimento para distinguir a esquerda da direita.

2Se o hóspede estiver de passagem, dê-lhe ajuda no que puder. Entretanto, ele não deve permanecer com você mais que dois ou três dias, se necessário.

3Se quiser se estabelecer e tiver uma profissão, então que trabalhe para se sustentar.

4Porém, se ele não tiver profissão, proceda de acordo com a prudência, para que um cristão não viva ociosamente em seu meio.

5Se ele não aceitar isso, trata-se de um comerciante de Cristo. Tenha cuidado com essa gente!

CAPÍTULO XIII

1Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se em seu meio é digno do alimento.

2Assim também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como qualquer operário.

3Assim, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê aos profetas, pois são eles os seus sumos-sacerdotes.

4Porém, se você não tiver profetas, dê aos pobres.

5Se você fizer pão, tome os primeiros e os dê conforme o preceito.

6Da mesma maneira, ao abrir um recipiente de vinho ou óleo, tome a primeira parte e a dê aos profetas.

7Tome uma parte de seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, conforme lhe parecer oportuno, e os dê de acordo com o preceito.


CAPÍTULO XIV
1Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro.

2Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado.
3Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: "Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações".


CAPÍTULO XV
1Escolha bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados pois também exercem para vocês o ministério dos profetas e dos mestres.

2Não os despreze porque eles têm a mesma dignidade que os profetas e os mestres.

3Corrija uns aos outros, não com ódio, mas com paz, como você tem no

Evangelho. E ninguém fale com uma pessoa que tenha ofendido o próximo; que essa pessoa não escute uma só palavra sua até que tenha se arrependido.
4Faça suas orações, esmolas e ações da forma que você tem no Evangelho de nosso Senhor.


O FIM DOS TEMPOS

CAPÍTULO XVI
1Vigie sobre a vida uns dos outros. Não deixe que sua lâmpada se apague, nem afrouxe o cinto dos rins. Fique preparado porque você não sabe a que horas nosso Senhor chegará.

2Reúna-se com frequência para que, juntos, procurem o que convém a vocês; porque de nada lhe servirá todo o tempo que viveu a fé se no último instante não estiver perfeito.

3De fato, nos últimos dias se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores, as ovelhas se transformarão em lobos e o amor se converterá em ódio.

4Aumentando a injustiça, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente. Então o sedutor do mundo aparecerá, como se fosse o Filho de Deus, e fará sinais e prodígios. A terra será entregue em suas mãos e cometerá crimes como jamais foram cometidos desde o começo do mundo.

5Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam.

6Então aparecerão os sinais da verdade: primeiro, o sinal da abertura no céu; depois, o sinal do toque da trombeta; e, em terceiro, a ressurreição dos mortos. 7Sim, a ressurreição, mas não de todos, conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele".
8Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu.

*Texto extraído do site www.monergismo.com

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Capítulo I - Exórdio
Excelentíssimo Diogneto,
Vejo que te interessas em aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente te informaste sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e, finalmente, por que esta nova estirpe ou gênero de vida apareceu agora e não antes. Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.

Capítulo II - Refutação da idolatria
Comecemos. Purificado de todos os preconceitos que se amontoam em sua mente; despojado do teu hábito enganador, e tornado, pela raiz, homem novo; e estando para escutar, como confessas, uma doutrina nova, vê não somente com os olhos, mas também com a inteligência, que substância e que forma possuem os que dizeis que são deuses e assim os considerais; não é verdade que um é pedra, como a que pisamos; outro é bronze, não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que usamos; outro é madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém que o guarde, para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela ferrugem; outro de barro, não menos escolhido que aquele usado para os serviços mais vis? Tudo isso não é de material corruptível? Não são lavrados com o ferro e o fogo? Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro outro? Não é verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora têm, cada um deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os mesmos artesãos trabalhassem os mesmos utensílios do mesmo material que agora vemos, não poderiam transformar-se em deuses como esses? E, ao contrário, esses que adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em utensílios semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas, insensíveis, imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas coisas chamais de deuses, as servis, as adorais, e terminais sendo semelhante a elas. Depois, odiais os cristãos, porque estes não os consideram deuses. Contudo, vós que os julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do que eles? Por acaso não zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que venerais deuses de pedra e de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto fechais à chave, durante a noite, aqueles feitos de prata e de ouro, e de dia colocais guardas para que não sejam roubados? Com as honras que acreditais tributar-lhes, se é que eles têm sensibilidade, na verdade os castigais com elas; por outro lado, se são insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios de sangue e gordura. Caso contrário, que alguém de vós prove essas coisas e permita que elas lhe sejam feitas. Mas o homem, espontaneamente, não suportaria tal suplício, porque tem sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta tudo, porque é insensível. Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre o motivo que os cristãos têm para não se submeterem a esses deuses. Se o que eu disse parece insuficiente para alguém, creio que seja inútil dizer mais alguma coisa.

Capítulo III - Refutação do culto judaico
Por outro lado, creio que desejais particularmente saber por que eles não adoram Deus à maneira dos judeus. Os judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de que falamos antes, e prestam culto a um só Deus, considerando-o Senhor do universo. Contudo, erram quando lhe prestam um culto semelhante ao dos pagãos. Assim como os gregos demonstram idiotice, sacrificando a coisas insensíveis e surdas, eles também, pensando em oferecer coisas a Deus, como se ele tivesse necessidade delas, realizam algo que é parecido a loucura, e não um ato de culto. “Quem fez o céu e a terra, e tudo o que neles existe”, e que provê todo aquilo de que necessitamos, não tem necessidade nenhuma desses bens. Ele próprio fornece as coisas àqueles que acreditam oferece-las a ele. Aqueles que creem oferecer-lhe sacrifícios com sangue, gordura e holocaustos, e que o enaltecem com esses atos, não me parecem diferentes daqueles que tributam reverência a ídolos surdos, que não podem participar do culto. Os outros imaginam estar dando algo a quem de nada precisa.

Capítulo IV - O ritualismo judaico
Não creio que tenhas necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos alimentos, a sua superstição sobre os sábados, seu orgulho da circuncisão, seu fingimento com jejuns e novilúnios, coisas todas ridículas, que não merecem nenhuma consideração. Não será injusto aceitar algumas das coisas criadas por Deus para uso dos homens como bem-criadas e rejeitar outras como inúteis e supérfluas? Não é sacrílego caluniar a Deus, imaginando que nos proíbe fazer algum bem em dia de sábado? Não é digno de zombaria orgulhar-se da mutilação do corpo como sinal de eleição, acreditando, com isso ser particularmente amados por Deus? E o fato de estar em perpétua vigilância diante dos astros e da lua, para calcular os meses e os dias, e distribuir as disposições de Deus, e dividir as mudanças das estações conforme seus próprios impulsos, umas para festa e outras para luto? Quem consideraria isto prova de insensatez e não de religião? Penso que agora tenhas entendido suficientemente por que os cristãos estão certos em se abster da vaidade e do engano, assim como das complicadas observâncias e das vanglórias dos judeus. Não creias poder aprender do homem o mistério de sua própria religião.

Capítulo V - Os mistérios cristãos
Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casa gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.

Capítulo VI - A alma do mundo
Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são vistos no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque esta a impede de gozar dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; também os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita em uma tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e bebidas, a alma torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar.

Capítulo VII - Origem divina do cristianismo
De fato, como já disse, não é uma invenção humana que lhes foi transmitida, nem julgam digno observar com tanto cuidado um pensamento mortal, nem se lhes confiou a administração de mistérios humanos. Ao contrário, aquele que é verdadeiramente senhor e criador de tudo, o Deus invisível, ele próprio fez descer do céu, para o meio dos homens, a verdade, a palavra santa e incompreensível, e a colocou em seus corações. Fez isso, não mandando para os homens, como alguém poderia imaginar, algum dos seus servos, ou um anjo, ou algum príncipe daqueles que governam as coisas terrestres, ou algum dos que são encarregados das administrações dos céus, mas o próprio artífice e criador do universo; aquele por meio do qual ele criou os céus e através do qual encerrou o mar em seus limites; aquele cujo mistério todos os elementos guardam fielmente; aquele de cuja mão o sol recebeu as medidas que deve observar em seu curso cotidiano; aquele a quem a lua obedece, quando lhe manda luzir durante a noite; aquele a quem obedecem as estrelas que formam o séquito da lua em seu percurso; aquele que, finalmente, por meio do qual todo foi ordenado, delimitado e disposto: os céus e as coisas que existem nos céus, a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem no mar, o fogo, o ar, o abismo, aquilo que está no alto, o que está no profundo e o que está no meio. Foi esse que Deus enviou. Talvez, como alguém poderia pensar, será que o enviou para que existisse uma tirania ou para infundir-nos medo e prostração? De modo algum. Ao contrário, enviou-o com clemência e mansidão, como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem para os homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para violentar, pois em Deus não há violência. Enviou-o para chamar, e não para castigar; enviou-o, finalmente, para amar, e não para julgar. Ele o enviará para julgar, e quem poderá suportar sua presença? Não vês como os cristãos são jogados às feras, para que reneguem o Senhor, e não se deixam vencer? Não vês como quanto mais são castigados com a morte, tanto mais outros se multiplicam? Isso não parece obra humana. Isso pertence ao poder de Deus e prova a sua presença.

Capítulo VIII - A Encarnação
Quem de todos os homens sabia o que é Deus, antes que ele próprio viesse? Quererás aceitar os discursos vazios e estúpidos dos filósofos, que por certo são dignos de toda fé? Alguns afirmam que Deus é o fogo - para onde irão estes, chamando-o de deus? - Outros diziam que é água. Outros ainda que é dos elementos criados por Deus. Não há dúvida de que se alguma dessas afirmações é aceitável, poderíamos também afirmar que cada uma de todas as criaturas igualmente manifesta Deus. Mas todas essas coisas são charlatanices e invenções de charlatões. Nenhum homem viu, nem conheceu a Deus, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé, unicamente pala qual é concedido ver a Deus. Deus, Senhor e criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem, não só se mostrou amigo dos homens, mas também paciente. Ele sempre foi assim, continua sendo, e o será: clemente, bom, manso e verdadeiro. Somente ele é bom. Tendo concebido grande e inefável projeto, ele o comunicou somente ao Filho. Enquanto o mantinha no mistério e guardava sua sábia vontade, parecia que não cuidava de nós, não pensava em nós. Todavia, quando, por meio de seu Filho amado, revelou e manifesto o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas as coisas: não só participar de seus benefícios, mas ver e compreender coisas que nenhum de nós teria jamais esperado.

Capítulo IX - A economia divina
Quando Deus dispôs todo em si mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele permitiu que nós, conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos impulsos desordenados, levados por prazeres e concupiscências. Ele não se comprazia com os nossos pecados, mas também os suportava. Também não aprovava aquele tempo de injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça, para que nos convencêssemos de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos da vida, e agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que ficasse claro que por nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e que somente pelo seu poder nos tornamos capazes disso. Quando a nossa injustiça chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que poderiam esperar era castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não nos rejeitou, nem guardou ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se paciente e nos suportou. Com misericórdia tomou para si os nossos pecados e enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos ímpios, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a sua justiça? Por meio de quem poderíamos ter sido justificados nós, injustos e ímpios, a não ser unicamente pelo Filho de Deus? Oh doce troca, oh obra insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça de muito é reparada por um só justo, e a justiça de um só torna justos muitos outros. Ele antes nos convenceu da impotência da nossa natureza para ter a vida; agora mostra-nos o salvador capaz de salvar até mesmo o impossível. Com essas duas coisas, ele quis que confiássemos na sua bondade e considerássemos nosso sustentador, pai, mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem preocupações com a roupa e o alimento.

Capítulo X - A essência da nova religião
Se também desejas alcançar esta fé, primeiro deve obter o conhecimento do Pai. Deus, com efeito, amou os homens. Para eles criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão sobre a terra. Deu-lhes a palavra e a razão, e só a eles permitiu contemplá-lo. Formou-os à sua imagem, enviou-lhes o seu Filho unigênito, anunciou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado. Depois de conhece-lo, tens ideia da alegria com que será preenchido? Como não amarás aquele que tanto te amou? Amando-o, tu te tornarás imitador da sua bondade. Não te maravilhes de que um homem possa se tornar imitador de Deus. Se Deus quiser, o homem poderá. A felicidade não está em oprimir o próximo, ou em querer estar pro cima dos mais fracos, ou enriquecer-se e praticar violência contra os inferiores. Deste modo, ninguém pode imitar a Deus, pois tudo isto está longe de sua grandeza. Todavia, quem toma para si o peso do próximo, e naquilo que é superior procura beneficiar o inferior; aquele que dá aos necessitados o que recebeu de Deus, é como Deus para os que receberam de sua mão, é imitador de Deus. Então, ainda estando na terra, contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás os que são castigados por não querer negar a Deus. Condenarás o erro e o engano do mundo, quando realmente conheceres a vida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte, e temeres a morte verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentarás até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres este fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, com justiça, suportaram o fogo passageiro.

Capítulo XI - O discípulo do Verbo
Não falo de coisas estranhas, nem busco coisas absurdas. Discípulo dos apóstolos, torno-me agora mestre das nações e transmito o que me foi entregue para aqueles que se tornaram discípulos dignos da verdade. De fato, quem foi retamente instruído e gerado pelo Verbo amável, não procura aprender com clareza o que o mesmo Verbo claramente mostrou aos seus discípulos? O Verbo apareceu para eles, manifestando-se e falando livremente. Os incrédulos não o compreenderam, mas ele guiou os discípulos que julgou fiéis, e estes conheceram os mistérios do Pai. Deu enviou o Verbo como graça, para que se manifestasse ao mundo. Desprezado pelo povo, foi anunciado pelos apóstolos a acreditado pelos pagãos. Desde o princípio e apareceu como novo e era antigo, a agora sempre se torna novo nos corações dos fiéis. Ele é desde sempre, e hoje é reconhecido como Filho. Por meio dele, a Igreja se enriquece e a graça se multiplica, difundindo-se nos fiéis. Essa graça inspira a sabedoria, desvela os mistérios e anuncia os tempos, alegra-se nos fiéis, entrega-se aos que a buscam, sem infringir as regras da fé nem ultrapassar os limites dos Padres. Celebra-se então o temor da lei, reconhecesse a graça dos profetas, conserva-se a fé dos evangelhos, guarda-se a tradição dos apóstolos e a graça da Igreja exulta. Não contristando essa graça, saberás o que o Verbo diz por meio dos que ele quer e quando quer. Com efeito, quantas coisas fomos levados a vos explicar com zelo pala vontade do Verbo que no-las inspira! Nós vos comunicamos por amor essas mesmas coisas que nos foram reveladas.

Capítulo XII - A verdadeira ciência
Atendendo e ouvindo com cuidado, conhecereis que coisas Deus prepara para os que o amam com lealdade. Transformam-se em paraíso de delícias, produzindo em si mesmos uma arvora fértil e frondosa, ornados com toda a variedade de frutos. Com efeito, neste lugar foi plantada a árvore da ciência e a arvora da vida; não é a arvora da ciência que mata, e sim a desobediência. Não é sem sentido que está escrito: No princípio Deus plantou a arvora da ciência da vida no meio do paraíso, indicando assim a vida por meio da ciência. Contudo, por não tê-la usado de maneira pura, os primeiros homens ficaram nus por causa da sedução da serpente. De fato, não há vida sem ciência, nem ciência segura sem verdadeira vida, e por isso as duas árvores foram plantadas uma perto da outra. Compreendendo essa força e lastimando a ciência que se exercita sobre a vida sem a norma da verdade, o Apóstolo diz: “A ciência incha; o amor, porém, edifica.” De fato, quem pensa que sabe alguma coisa sem a verdadeira ciência, testemunhada pela vida, não sabe nada: é enganado pala serpente, não tendo amado a vida. Aquele, porém, que sabe com temor e procura a vida, planta na esperança, esperando o fruto. Que a ciência seja coração para ti; a vida seja o Verbo verdadeiramente compreendido. Levando a arvora dele e produzindo fruto, sempre colherás o que é agradável diante de Deus, o que a serpente não toca, nem se mistura em engano; nem Eva é corrompida, mas reconhecida como virgem. A salvação é mostrada, os apóstolos são compreendidos, a Páscoa do Senhor se adianta, os círios se reúnem, harmoniza-se com o mundo e, instruindo os santos, o Verbo se alegra, pelo qual o Pai é glorificado. A ele, a glória pelos séculos. Amém.

Traduzido por Luiz Fernando Karps Pasquotto


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