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sábado, 31 de dezembro de 2016

Novo Testamento de Erasmus: 500º aniversário da "primeira edição"

            Neste ano de 2017 em grande parte do Ocidente haverá de se comemorar os 500º  anos da Reforma Protestante, que teve seu estopim na promulgação das 95 teses do então beneditino Matinho Lutero.
Entretanto, dentre os diversos marcos históricos significativos que contribuíram para que acontecesse esta grande reforma religiosa-eclesiástica  está a produção do Novo Testamento Grego, que foi produzida pelo filho do renascentismo humanista o católico catedrática Erasmo de Roterdã (Desiderius Erasmus - 1467-1536) e que neste ano de 2016 completou seu 500º ano desde sua primeira edição (1516).
Evidentemente que para um povo brasileiro avesso à leitura, incluindo os mais diversos ramos do cristianismo-evangélico aqui estabelecidos, não é de se esperar que esta data simbólica possa ter ou fazer qualquer diferença. Todavia, naquele momento, em que eram raras as versões da Bíblia ou mesmo do Novo Testamento, o esforço de Erasmo foi algo revestido dos maiores reconhecimentos e recebido como água cristalina em meio às turvas águas que emanavam de uma Igreja Cristã quase totalmente contaminada por toda sorte de influências e desvios dos padrões bíblicos.
Ainda que não fosse a primeira edição de um Novo Testamento compilado em grego, Erasmus editio princeps[1] tornou-se um marco importante, pois seu trabalho filológico dos textos bíblicos gregos acabou por trazer à tona uma série de equívocos encontrados na velha senhora (Vulgata Latina) até então a única tradução autorizada pela Igreja Católica e tida como uma versão inspirada (sem erros). O próprio Martinho Lutero usou a segunda edição do trabalho de Erasmus para produzir sua tradução do Novo Testamento em alemão, o chamado "Testamento de setembro".[2] A terceira edição do texto grego de Erasmo tornou-se a base textual para a versão mais popular da Bíblia em inglês a King James (Tyndale 1525) e que foi a única bíblia utilizada pelas igrejas inglesas (Anglicana) por muitos séculos e ainda hoje continua muito querida. Além deles temos Antonio Brucioli, que fez uma tradução para o italiano; e Francisco de Enzinas, para utilizou o texto de Erasmo para sua versão para o espanhol.
Erasmo de Roterdã estudou em Paris, Oxford e na Itália e foi ordenado sacerdote católico em 1492 nos Cânones Agostinianos Regular, mas optou por não seguir a carreira eclesiástica e foi nomeado secretário do bispo de Cambrai, na França. Como filho de seu tempo ele foi arrebatado pelos fortes ventos do humanismo renascentista, exercendo permanentemente seu senso crítico em relação às instituições eclesiásticas, mas não se entusiasmou com os diversos movimentos reformistas que optaram pela ruptura e não pela busca permanente de uma reforma da Igreja. Manteve-se sempre esperançoso de que era possível reforma a Igreja sem sair dela. Em determinados momentos travou debates acadêmicos teológicos com Martinho Lutero. Por causa dessa sua “neutralidade” foi atacado por ambos os lados da questão e lhe custou caro, conforme expressa o erudito David Schaff de que Erasmo “morreu isolado, sem tomar nenhum partido. Os católicos não o consideravam católico e os protestantes não podiam considerá-lo protestante”.
Reconhecido por sua capacidade acadêmica como filólogo e humanista, mas também muito popular, pois era uma pessoa viajada e tinha um circulo de amizade com personagens palacianos e acadêmicos. Era consultado por vários estudiosos de diversos países e suas obras eram muito bem recebidas pelos críticos e pelo público. Naquele momento Erasmo era uma celebridade internacional. Por todas estas razões Erasmus foi convidado por Johann Froben[3] de Basileia em 1514, para que produzisse nada menos do que um novo texto grego do Novo Testamento para impressão. Assumiu o desafio e no inicio de 1516 esta sendo impresso seu trabalho que curiosamente, Erasmus chamou de Novum Instrumentum omne , ou Novo Instrumento, em vez de Novo Testamento, mas já na segunda edição ele retoma o nome tradicional. O texto estava dividido em duas colunas. Em uma, ficava o texto em grego; em outra, ficava sua tradução para o latim. Sua obra também incluía muitas notas críticas. Erasmo escreveu na introdução do seu Novo Testamento: “Alguns não querem que as Escrituras Sagradas sejam lidas pelas pessoas comuns nem traduzidas para as línguas modernas. Discordo totalmente deles”.
Naquele momento, em que as rodas dos tempos começavam a girar mais rapidamente, com o impulso do dínamo da imprensa, Erasmus montou apressadamente uma edição, [4]  baseando o texto em manuscritos gregos que tinha na mão,[5] que eram os mais antigos. Seu texto passou a ser denominado de “Texto Receptus , ou “texto recebido, texto Majoritário ou ainda texto Bizantino, por ter sido utilizado pela Igreja Grega”.
Para a publicação de seu texto, Erasmo fundamentou-se em seis manuscritos datados dentre os séculos XI e XV, estando bem ciente de sua qualidade inferior.[6] Esses manuscritos não eram completos, ou seja, havia lacunas entre eles, de maneira que necessitou se apoiar no texto da velha Vulgata latina de São Jerônimo.[7] 
A aceitação foi tão grande que rapidamente se esgotaram a primeira edição, bem como as seguintes até a quinta - publicadas em 1519,[8] 1522, 1527 e 1535, respectivamente – a cada nova edição Erasmo incluía correções do texto grego. Sem qualquer restrição, Erasmo fez uso do texto Complutense para um número de correções, que ele mesmo reconheceu como pertencendo a uma tradição textual melhor e mais confiável.
Mas nem tudo foi tranquilo, como na verdade nunca é. Houve muitas resistências ao trabalho de Erasmo e seus muitos críticos centraram em três questões: 1) as diferenças que havia entre sua nova tradução latina e a consagrada Vulgata; 2) as longas anotações, que justificava sua tradução e 3) a inclusão, entre as notas, de comentários sobre a vida desregrada e corrupta de muitos sacerdotes. Além das críticas nos púlpitos e nas Universidades, como as de Cambridge e Oxford, proibiam-se os alunos de lerem e os livreiros de venderem a “herética” tradução.
 Foi acusado de apoiar os movimentos Reformadores, pois seu texto foi amplamente utilizado por muitos eruditos reformados. Mas a acusação mais grave foi de que ele tinha ideias “arianas”, pois negava a trindade e assim a genuína Divindade de Jesus. Esta grave acusação, que poderia leva-lo à fogueira da Inquisição, foi feita por Lopes de Stunica, um dos editores da Poliglota Complutense, que concorria naquele momento com o texto de Erasmo. A acusação era decorrente do fato que ele omitiu a passagem de 1 João 5:7-8 que era encontrada na Vulgata, mas não nos manuscritos gregos ao qual ele tinha acesso e fundamentado seu trabalho: “pois há três que testificam no céu, o Pai, o Verbo e o Espírito Santo: e estes três são um”.
Ele replicou de que não havia encontrado em nenhum manuscrito grego a referida passagem e desafiou seu acusador a trazer ao menos um texto grego que a comprovasse. Um manuscrito lhe foi trazido e ele honrou sua promessa e incluiu a referida passagem em sua terceira edição (1522), todavia, incluiu uma longa nota marginal colocando sob suspeita o texto que lhe foi trazido e mantendo suas razões para não considerar essas palavras como originais (METZGER, 1993, p. 715-716). Muitos críticos textuais entendem que o texto que lhe foi apresentado foi produzido artificialmente em Oxford, em 1520, por um frade franciscano chamado Froy, que ele extraiu da Vulgata Latina.
Atualmente a maioria das Bíblias modernas está baseada em um Textus mais moderno denominado de texto científico (Nestle-Aland). Este trabalho está fundamentado no texto alexandrino (Egito) cujos manuscritos datam do 2º século D.C. Ele é claramente o mais próximo dos originais, e forma a base para as edições científicas modernas. Mas o texto produzido por Erasmo foi e continua sendo fundamental para grande parte das versões da bíblia em todo o mundo.
Infelizmente, afora alguns espaços acadêmicos e talvez teológicos, a data no mais passou totalmente despercebida. Mas ainda que no último dia do ano de 2016 creio ser oportuno nos lembrarmos deste marco extremamente importante para os grandes acontecimentos que haveria de ocorrer nos anos próximos e que ainda hoje se fazem ressentir na continuidade da História da Igreja Cristã.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/


Referências Bibliográficas
BASTOS, Alexandre Frasato. Tempos de angústia Erasmo e Lutero no início da Modernidade.[Monografia Pesquisa Histórica] Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2008.
CUNHA, Samuel. Erasmo, Lutero e o livre-arbítrio. São Bernardo do Campo (SP): DISCERNINDO - Revista Teológica Discente da Metodista,v.2, n.2, p. 53-66, jan. dez. 2014. Disponível em: www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/discernindo/article/viewFile/4746/4032. Acessado em: 19/07/2015.
DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. Tradução: João Pedro Mendes. São Paulo: Pioneira, 1989. [Biblioteca Pioneira de ciências sociais. História. Série “Nova Clio”; 30].
FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero: um destino. São Paulo: Três Estrelas, 2012.
FERACINE, Luiz. Erasmo de Rotterdam – o mais eminente filósofo da renascença. [Coleção Pensamento e Vida]. São Paulo: Editora Escala Ltda, 2011.
METZGER, Bruce M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Stuttgart: United Bible Societies, 1993.
MILLI, Adriani. Livre ou servo arbítrio? A vontade humana em Erasmo e
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. [Tradução Benôni Lemos; revisão João Bosco de Lavor Medeiros]. São Paulo: Edições Paulinas, 1981.
PINTACUDA, Fiorella de Michelis. Tra de Erasmo e Lutero. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura, 2001. [Instituto Nazionale di Studi Sul Rinascimento]

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[1] A expressão latina  editio princeps ( plural : editiones principes ) é um termo clássico para designar a grosso modo, a primeira edição impressa de um trabalho que anteriormente existia apenas em manuscritos , o que poderia ser circulado somente após ser copiados à mão.
[2] A Bíblia Luther foi publicada em setembro de 1522, seis meses após ele ter retornado a Wittenberg. Esta tradução é considerada como sendo, em grande parte, responsável pela evolução da moderna língua alemã.
[3] Johann Froben foi pintor, ilustrador, editor, livreiro e impressor suíço, pai de Hieronymus Frobenius e avô de Ambrosius Frobenius. A sua oficina tipográfica, na Basileia, tornou a cidade um centro destacado no comércio de livros na Suíça.
[4] A pressa do editor Froben devia ao fato de que havia um cardeal da Espanha que estava trabalhando em sua própria edição, mas Ximenes só conseguiu aprovação papal para a publicação em 1522, e a de Erasmo foi editada em 01 de março de 1516. A obra do Cardeal Francisco Ximénez de Cisneros era a Bíblia Poliglota Complutense de Alcalá de Henares e a seção do Novo Testamento do Complutense foi impresso em janeiro de 1514 em seis volumes, mas publicada somente 1922. Isso ocorreu porque Erasmo tinha conseguido os direitos de publicação exclusiva por quatro anos pelo Papa Leão X e pelo Imperador Romano Maximiliano.
[5] Temos hoje à nossa disposição uma riqueza de manuscritos de diferentes eras e de qualidade variável (cerca de 5.400 manuscritos para o Novo Testamento).
[6] Os manuscritos que Erasmo usou, incluindo as anotações que fez neles, ainda existem, de forma que seu trabalho pode ser analisado de forma relativamente bem.
[7] Um exemplo digno de nota envolve os versos finais do Livro do Apocalipse, que estavam faltando no códice que Erasmus havia emprestado de seu amigo Johannes Reuchlin. 
[8] Para essa segunda edição, Erasmo apresentou aproximadamente 1.100 cópias, que continha cerca de 400 melhorias.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Perseguições Império Romano à Igreja: Nero a Marco Aurélio

Somente em momento posterior, quando o cristianismo se espalhou por todo o Império é que as autoridades romanas começaram a ver no movimento cristão um perigo para o Estado (politica-economicamente) uma vez que em termos de religião o Império era condescendente com todas as religiões. Em Roma não se admite nenhuma ideia de Deus que não coincida com a majestade imperial. Quem tem uma ideia diversa é eliminado como gravemente perigoso à “civilização romana", ou seja, “poder político”. (Ironicamente, séculos depois a Igreja Cristã fara a mesma coisa com os “hereges”, e pelos mesmos motivos).
É preciso deixar bem claro que nem todos os Imperadores romanos empreenderam perseguições violentas à Igreja Cristã. Houve períodos em que os cristãos tiveram plena liberdade para proclamarem sua mensagem evangélica.
Perseguições mais violentas:
Ø  Nero (13 de outubro de 54 até a sua morte, a 9 de junho de 68): Certamente esse louco e devasso imperador foi o primeiro e um dos mais implacáveis perseguidores de cristãos, nem de longe por razões religiosas, mas unicamente política. As comunidades cristãs haviam se espalhado por toda a cidade e com a chegada do apóstolo Paulo, provavelmente no início de 61, para ser julgado pelas acusações dos judeus (Sinédrio), sem dúvida recebeu um grande impulso.[1]
o    Na noite de 16 de julho 64 um incêndio devastou 10 dos 14 bairros de Roma. Eram bairros pobres e cheios de lojas com mercadorias facilmente inflamáveis. Favorecido pelo clima seco do início do verão, e pelos ventos o vale entre o Palatino e o Aventino se tornou um mar de chamas durante seis dias, sendo detido apenas ao pé do Esquilino, após se derrubarem várias casas. Alguns dias depois, um segundo incêndio estoura nos jardins de Tigellinus perto do Pincian, e vai devastando o outro lado da cidade. Embora a perda de vidas fosse menor no segundo incêndio, a destruição de templos e edifícios públicos foi mais grave, o Templo de Júpiter Stator, de 800 anos de idade, e o Atrium Vestae, o coração das Virgens Vestais, tinham desaparecido (cf. relatos: Tácito. Anais XV. 44, 2-8; Suetônio, Vida de Nero 38; Dião Cássio. História de Roma LXII, 16-18; Eutrópio. Breviário VII, 13).
§   As suspeitas da causa do terrível incêndio recaem sobre o imperador Nero, sendo elas infundadas ou verídicas, para desviar de si os holofotes da tragédia, lança a culpa sobre os Cristãos. Inicia, assim, a primeira grande perseguição na qual foram mortos entre centenas, os apóstolos Pedro e Paulo. O historiador cristão Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.) afirma que durante esta perseguição Paulo foi decapitado em Roma, e Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, pois pediu para si esse sofrimento.
o   O historiador romano Tácito Cornélio (54-120), que não nutria consideração pelos cristãos, registra esse terrível martírio em seus "Anais", escrito no tempo do imperador Trajano. Ele deixa claro que Nero usou os cristãos como bodes expiatórios: “Para acabar logo com as vozes públicas, Nero inventou os culpados, e submeteu a refinadíssimas penas aqueles que o povo chamava de cristãos, e que eram mal vistos pelas suas infâmias. O nome deles provinha de Cristo, que sob o reinado de Tibério fora condenado ao suplício por ordem do procurador Pôncio Pilatos... Foram inicialmente aprisionados os que faziam confissão aberta da crença. Depois, denunciados por estes, foi aprisionada uma grande multidão, não tanto porque acusados de terem provocado o incêndio, mas porque eram tidos como acesos de ódio contra o gênero humano”. E o escritor romano descreve alguns detalhes da crueldade praticada contra os cristãos: O suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriam com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram crucificados, ou os queimaram de noite para servirem de archotes e tochas ao público. Nero tinha oferecido seus jardins para gozar desse espetáculo, enquanto oferecia os jogos do circo e, vestido como cocheiro misturava-se ao povo ou mantinha-se hirto sobre o coche. Entretanto, as punições severas impostas aos cristãos geraram um sentimento de comiseração nos espectadores, e, além do mais, não exoneraram Nero de seu possível ato criminoso, pois “não eram imolados à utilidade pública, mas para satisfazer a crueldade de um” (Tácito. Anais XV. 44,7-8).
Esses terríveis eventos do ano 64, e as consequentes ações tomadas pelo poder imperial perduraram por um longo período, e seus ecos podem ser vistos nas narrativas históricas cristãs posteriores: Tertuliano (Ad Nationes 1,7,9; c.f. Apologético 5,3), Eusébio de Cesareia (História Eclesiástica II. 25, 1-8) e Lactâncio (Sobre a morte dos perseguidores 2, 1-8), demarcando assim o início das ações persecutórias do Império Romano contra os cristãos.
o   Por que os cristãos? Nos dias de Nero os cidadãos romanos expressavam seu descontentamento e rejeição tanto no que diz respeito às comunidades judaicas quanto as recentes comunidades cristãs. É muito provável que a comunidade judaica de Roma acionou rapidamente suas conexões na corte imperial para se defenderem e evitarem qualquer tipo de reação popular anti-judaica, embora os judeus estivessem em uma posição privilegiada em relação aos cristãos, pois sua religião era classificada como religio licita, enquanto o cristianismo era uma religio ilícita.[2] Desta forma, sobrou para os cristãos, que naquele momento já eram numerosos e mal vistos o suficiente para fornecer um suprimento abundante de vítimas, todavia, destituídos do poder político/econômico para esboçarem alguma retaliação.[3] Os testemunhos documentais da época (Plinio; Suetonio e Dião Cassio) são unanimes em afirmar que a autoria do incêndio partiu do próprio Nero; por outro lado, não há nenhum testemunho antigo que assegure que os cristãos foram os responsáveis por tal catástrofe e Tácito, historiador romano e que via os cristãos com antipatia, excluiu os cristãos de culpa nesse terrível episodio. A decorrente perseguição contra os cristãos provavelmente ficou confinada à cidade de Roma, havendo  pouca evidência de que se tenha estendido ao resto do Império. O escritor cristão Tertuliano, advogado e apologista, menciona um Neronianum institutum, o qual muitos interpretam como sendo um decreto, porem outros resistem à ideia de que se estabeleu uma lei ou decreto, específico, contra os cristãos sob Nero. O institutum Neronianum viria a ser uma descrição das atividades anticristãs, todavia, sem um embasamento jurídico. Além disso, nenhum historiador conhecido mostra conhecimento de uma lei especifica contra os cristãos nesse período neroniano.
Muitos estranham o silêncio completo por parte das primeiras fontes literárias cristãs sobre a questão do incêndio e da perseguição subsequente por parte de Nero. Uma das hipóteses para tal silencio é de que durante esses períodos de perseguições, o cristianismo necessitava de uma apologética mais do que obras históricas – pois as comunidade cristãs necessitavam defender-se dos ataques e das calunias que lhes sobrevinham (José Fernández Ubiña). A historiografia cristã começa de fato a ser escrita após a vitória de Constantino na Ponte Milvio (312) e do Edito de Milão (313).
Ø  Após a morte de Nero no ano 68, a Igreja desfrutou de paz e tranquilidade. A Dinastia Flaviana, representada por Vespasiano (1 de julho de 69 a 24 de junho 79) e seu filho Tito (24 de junho de 79 a 13 de setembro 81), que praticamente governaram simultaneamente, foram mais condescendentes e tolerantes com os cristãos, esquecendo-se praticamente do institutum Neronianum. Vespasiano assume o Império num ano de guerras civis, após a morte de Nero, conhecido como o Ano dos Quatro Imperadores. Foram eles que destruíram a cidade de Jerusalém e do Templo (70 d.C.), acelerando o processo da completa separação do judaísmo e do cristianismo. Mas para as autoridades romanas esta distinção ainda vai demorar e na medida em que tinha qualquer questão envolvendo cristãos, eles os consideravam apenas como uma seita judaica. Estavam mais preocupados em reconstruírem o império e sua glória. Um de seus projetos mais ambicioso foi a construção do Anfiteatro Flávio, conhecido popularmente como o Coliseu Romano, que posteriormente será o triste palco de muitos mártires cristãos. Tito sucede seu pai e reunia todas as características para ser um grande líder, à altura do seu pai, mas o seu breve reinado foi marcado por catástrofes. Em 24 de Agosto de 79, apenas dois meses depois de sua ascensão ao trono, o vulcão Vesúvio destruiu as cidades de Pompeia e Herculano e, em 80, Roma foi de novo consumida por um incêndio. Foi extremamente solidário com todos os que sofreram nessas catástrofes, tornando-se muito querido pelos romanos, mas morre precocemente de febre, a 13 de setembro de 81 d.C. A grande popularidade de Tito fez com que o Senado o deificasse. Flávio Josefo, historiador judeu, na obra em que registra os fatos Guerra dos Judeus, oferece uma visão positiva sobre o imperador Tito e negativa dos líderes judaicos da rebelião, apresentando-a como uma operação mal organizada e culpando aos judeus de causar a guerra. Entretanto, sua opinião fica comprometida, pois se naturalizou romano e passou a receber uma pensão anual do governo e viveu no palácio imperial.
Ø  Domiciano (14 de outubro de 81 até a sua morte a 18 de setembro de 96): Com a morte prematura de seu irmão Tito (a 13 de setembro de 81), no dia seguinte, Domiciano foi proclamado imperador pela Guarda Pretoriana; o seu reinado, que duraria quinze anos, seria o mais longo desde o do imperador Tibério. Segundo sugestionam as partes comuns das fontes sobreviventes, parece ser que carecia do carisma natural do seu irmão e do seu pai, que era propenso a suspeitar das pessoas, e que tinha um estranho e ocasionalmente autodepreciativo senso do humor.
Tudo fica mais difícil quando este imperador assume o trono. Domiciano cria firmemente na religião romana tradicional; dirigiu uma intensa política com o objeto de ressuscitar os antigos costumes e restabelecer a moral romana. Para justificar a divinização da sua dinastia restaura o Templo de Júpiter, dos quais dizia serem descendentes. Mas deidade favorita era Minerva, que aparece em muitas moedas de seu reinado. Ele ressuscitou a pratica do culto imperial, em desuso durante o reinado de Vespasiano; construiu um templo dedicado ao seu pai e irmão.  As religiões estrangeiras eram toleradas enquanto não interferissem na ordem pública e que pudessem ser assimiladas à tradicional religião romana. Uma tradição baseada nos escritos de Eusébio de Cesarea registra que cristãos e judeus foram implacavelmente perseguidos em finais do seu reinado. Outros eruditos defendem que o livro do Apocalipse foi escrito durante o reinado de Domiciano, quando ordenou o banimento do apóstolo João para a Ilha de Patmos, como uma manifestação da intolerância religiosa do imperador. Há um testemunho (Nicéfero) de que Timóteo que fora discípulo de Paulo, foi martirizado durante o reinado de Domiciano, no ano 96 d.C, em Éfeso, cidade onde morava. A perseguição infligida por Domiciano não atingiu todo o Império, somente a cidade de Roma e a Ásia Menor. A cidade de Pérgamo (Ap 2.13) era a capital do culto ao imperador na Ásia Menor e ali foi erigido o primeiro templo de Roma e Augusta e anualmente se fazia ali uma festa cultíca. Domiciano se avocou divino e exigia ser chamado de “Dominus ac Deus” (Senhor e Deus), de modo que os cristãos passaram a serem condenados por crime de lesa majestade nas províncias orientais sob pretexto da lex julia malestatis, por se negar a exercitarem o culto ao imperador. “A recusa em participar no culto estatal, necessariamente associado ao seu monoteísmo exclusivista, fez com que os cristãos surgissem simultaneamente como ateus e [...] inimigos do Estado” (FRANZEN, 1996, p. 59). Com base no fato de que nenhuma fonte contemporânea dá ao manifesto a existência de juízos ou execuções baseados em ofensas religiosas desta natureza, vários historiadores querem amenizar uma perseguição sistêmica e opressora exercida durante o seu reinado.
Ø  Trajano (imperador romano de 98 a 117): A ascensão da dinastia nerva-antonina, com seus sete imperadores que governaram o Império Romano entre 96 d.C. e 192 d.C. (Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio, Lúcio Vero e Cômodo), deu aos cristãos um período com perseguições localizadas e ocasionais. A Domiciano sucedeu-lhe Nerva (96-97), que mediante a violência de seu antecessor, revogou os processos por ateísmo e costumes judaicos que eram utilizadas contra os cristãos. A Nerva sucedeu-lhe Trajano que era espanhol de origem, cujas qualidades de grande soldado e estadista elevaram o Império romano ao seu apogeu de prosperidade e bem-estar. Para nosso interesse há uma correspondência oficial entre Plínio, o Jovem, um amigo do Imperador que assumiu a função de governador de Ponto e Bitínia (111-113), onde solicita a opinião de Trajano sobre como tratar ou legislar sobre a questão envolvendo os cristãos daquela região, visto que não tinha experiência sobre esse assunto:[4] Nunca participei de inquéritos contra os cristãos. Assim, não sei a quais fatos e em que medidas devem ser aplicadas penas ou investigações judiciárias. Essa correspondência de Plínio é o primeiro relato pagão das atividades e do comportamento dos cristãos, e a resposta de Trajano é a primeira legislação sobre o cristianismo da qual temos conhecimento. Torna-se uma pequena janela de onde podemos observar como estava sendo a relação do governo e dos cristãos nesse período:
o   Como os cristãos viviam: “reunir-se num dia fixo, antes do levantar-se do sol, cantar um hino a Cristo como a um deus, empenhar-se com juramento a não cometer crimes, a não cometer nem roubos, nem assaltos, nem adultérios, e a não faltar à palavra dada. Eles têm também o hábito de se reunir para tomar a própria refeição que, apesar dos boatos, é alimento ordinário e inócuo”.
o   Acusações contra os cristãos: Transparece na carta de Plínio, que caíram as absurdas acusações de ritual infanticídio e incesto, mas algumas permaneceram: «recusarem a oferecer culto ao Imperador» (portanto de lesa majestade), e da formação de hetérias [associações]. O Imperador responde: “Os cristãos não devem ser perseguidos por ofício [os cristãos não deveriam ser tratados como os criminosos comuns, sacrílegos ou bandidos]. Sendo, porém, denunciados e reconhecidos culpados, é preciso condená-los”. Em outras palavras: Trajano encoraja a fazer vistas grossa sobre eles: “são uma hetéria [associação] inócua como os barqueiros do Sena e os vendedores de vinho de Lion”. Uma vez, porém, que estão praticando uma «superstição irracional, tola e fanática» (como é julgada por Plínio e outros intelectuais do tempo, como Epíteto, e continuam a recusar o culto ao imperador e, portanto, consideram-se «estranhos» à vida civil), não se pode fazer de conta que não há nada. Quando denunciados, sejam condenados”. Para isso era utilizado um tribunal especifico - ordinem adicional cognitio, um sistema arbitrário de julgamento perante um juiz por crimes que não se encaixavam nas prescrições dos "crimes legais", como traição, falsificação, ou adultério. Por sua vez, não seriam mais aceitas as denúncias anônimas: mas nenhum aviso deve ser tomado de acusações anônimas em qualquer tipo de procedimento. Pois são de procedência maior e são inconsistentes com o nosso tempo. Essa recomendação do Imperador foi suficiente para que a quantidade de processos e consequentes condenações fossem declinantes. (Plinio, o Jovem Cartas X, 97; SHERWIN-WHITE, 1966, p. 710–12). Neste período foram vítimas: o bispo Simeão de Jerusalém, crucificado quando tinha 120 anos de idade, e Inácio Bispo de Antioquia, levado à Capital como cidadão romano, e aí condenado.
o   A mesma política, em relação aos Cristãos, é exercida pelos imperadores Adriano (117-138) e Antonino Pio (138-161).
o   Entre 125 e 160, os cristãos desfrutaram de uma tolerância precária. Alguns martírios são registrados nesta época de prosperidade que marcou o clímax da civilização greco-romana.
Ø  Marco Aurélio (161-180), imperador filósofo, é uma exceção nessa dinastia nerva-antonina; nutriu grande desprezo pelo cristianismo e classificava os cristãos de gente comum, ignorante e com seu um edito em 176-7, torna a situação dos cristãos, ainda mais dura.
o   Neste momento os cristãos estão sendo acusados de toda sorte de tragédias naturais ou não, que pudesse trazer prejuízo à população.
o   Foi nesse período que o ancião Policarpo (cerca de 100 anos) foi martirizado, no que Eusébio de Cesaréia denominou de as "grandes perseguições que perturbaram a província da Ásia" (talvez em fevereiro de 156, mas é mais provável 166-69). E estando diante do Pro Consul, que lhe dá a oportunidade de negar sua fé e declarar César como Senhor, que o velho cristão faz uma das mais lindas declarações de fé: “Durante oitenta e seis anos o tenho servido, e nunca me fez mal algum. Como blasfemaria eu contra o meu Rei, que me tem salvador?” Ele foi condenado à morte e queimado vivo. Justino, o célebre filósofo-cristão, foi martirizado nesta perseguição; ele havia em meados do ano 133 d.C, aos trinta anos, sido convertido ao cristianismo; escreveu uma elegante epístola aos gentios e empregou seus talentos para convencer os judeus da verdade dos ritos cristãos; abriu uma escola pública; ensinou a muitos que foram, posteriormente, destacados personagens na história; e escreveu um tratado para refutar todo tipo de heresias; quando os pagãos começaram a tratar os cristãos com severidade, Justino escreveu sua primeira apologia a favor deles, revelando grande erudição e genialidade, a ponto de sensibilizar o imperador que acaba por publicar um edito em favor dos cristãos; posteriormente, induzido por Crescente, inimigo de Justino, o imperador manda prendê-lo juntamente com outros seis amigos; após sua recusa em prestar sacrifícios aos ídolos pagãos, ele e seus companheiros foram condenados ao açoite seguido de decapitação, sendo cumprida com toda severidade e crueldade.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
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Referências Bibliográficas
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BROWN, Peter. A ascensão do cristianismo no ocidente. Lisboa: Presença, 1999.
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[1] A narrativa do livro de Atos dos Apóstolos apresenta seu término no ano de 62, e Lucas deixa transparecer que as relações entre cristãos e autoridades romanas mostravam-se sob o manto do tolerável. A leitura revela que em sua chegada a Roma, o apóstolo Paulo e as lideranças das comunidades cristãs na cidade eram considerados ainda, embora com suspeição, membros da comunidade judaica (At. 28:17-22); no entanto, este relacionamento mudou bruscamente em dois anos.
[2] Os crimes mais infames atribuídos aos cristãos eram o infanticídio ritual (diziam que durante o ritual da Ceia [do Senhor], quando se alimentavam do corpo e do sangue de Cristo, eles sacrificavam uma criança e comiam suas carnes!) e o incesto (uma deformação do abraço e ósculo fraternal que os cristãos se davam na celebração da Ceia chamando-se de irmãos e irmãs).
[3] O que definia um cidadão naquele momento era o fato de que cultuava os mesmos deuses da cidade, de maneira que o cristão com sua religião própria se tornava um pária social e por está razão torna-se o bode expiatório de tudo de ruim que viesse a ocorrer na cidade (DANIEL-ROPS, 1988, p. 122-3). A negação em adorar outros deuses, a exclusividade monoteísta era encarada como motivo para a destruição da pax deorum, da harmonia entre os homens e os deuses, pois questionava a tradição que se assentava o Estado.
[4] As cartas trocadas entre Plínio, o Jovem e Trajano revelam diversas situações da vida pública e privada do final do século I e início do século II d.C. Desde pedidos ligados a cidadania, reformas de banhos públicos, construções de teatros e aquedutos, questões ligadas a escravidão e militarismo, até a caracterização do sistema de assistência mútua - o clientelismo – e a força do emprego das expressões virtuosas (STADLER, 2010)