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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O Brasil pelo Prisma Protestante (J. C. Fletcher O Brasil e os Brasileiros)


Introdução
      O protestantismo se inseriu no Brasil a mais de cento e cinquenta anos, mas infelizmente valorizam muito pouco sua própria história e por esta razão encontramos tão pouca informação sobre a participação efetiva dos protestantes no país.
      O livro produzido por James Cooley Fletcher, o primeiro missionário presbiteriano a percorrer todo o território brasileiro, dando continuidade à obra escrita por seu companheiro de atividade missionária no Brasil, o metodista Daniel Parish Kidder, que estivera viajando pelo Brasil antes dele, é extremamente relevante tanto do ponto de vista missionário quanto do ponto de vista histórico, pois nos permite ver pela ótica de um protestante as potencialidades deste país Continental, que impactava e impressionava todos aqueles que por ele caminhava.
Como um protestante via o Brasil? Qual a perspectiva dele em relação ao futuro desta nação? De que maneira sua proposta evangélica-protestante poderia contribuir para o desenvolvimento do país?
      Enquanto as mais ecléticas editoras reeditam a literatura dos viajantes, revalorizando seu conteúdo e assim resgatando os primórdios da nação brasileira, a literatura produzida por testemunhas oculares de viés protestante continua esquecida no limbo editorial.
As editoras de cunho protestante-evangélicas ignoram por completo esse tipo de literatura, pois sabe que o retorno financeiro será nulo, visto ser um tipo de literatura que atrai interesse quase que somente de pesquisadores acadêmicos, o que apenas comprova a visão míope monetarista destas empresas editoriais.
       Esta miopia financista editorial tem contribuído em muito para que o protestantismo continue sendo um desconhecido no país o qual já se faz presente a mais de um século e meio. É destas editoras de viés protestante histórico, que se poderia esperar uma compreensão melhor da importância de se resgatar a presença protestante na história brasileira, todavia, mantiveram a mesma opção de seus primórdios, produzindo literatura prioritariamente teológico-doutrinária, voltada especificamente para si mesmo, sem preocupação mínima de se conectar ao que estava e está acontecendo no país.
O fato de que cada segmento protestante evangélico veio a se constituir em um mercado autossuficiente, apenas agravou ainda mais a situação descrita. Tudo que essas editoras produzem já tem um público alvo especifico e consumidor, portanto, não há motivação alguma em se aventurar por um tipo de literatura singular e de pouco interesse de seus leitores, em geral pouco acostumados às leituras históricas. De maneira que, se não fazemos parte integrante da História do Brasil, o que estamos fazendo então? Qual proposta religiosa pode impactar uma sociedade da qual não se estabelece qualquer vínculo histórico? Como se fazer presente na Sociedade brasileira quando se opta pela invisibilidade histórica?
        Portanto, resgatar do limbo o tipo de literatura produzida por James C. Fletcher é um passo significativo para uma inserção do protestantismo nas entranhas da histórica brasileira, resgatando toda potencialidade que essa nação tinha aos olhos dos viajantes que por aqui passavam e mais particularmente dos protestantes que tinham plena consciência de que era fundamental para a expansão de sua mensagem evangélica no continente americano que aqui se estabelecesse suas denominações.
Quem foi James Cooley Fletcher?
Foi um pastor presbiteriano, nascido em Indianapolis, no Estado de Indiana, em 1823. O jovem James Cooley Fletcher[1] fez sua graduação em Brown University em 1846, estudando teologia por dois anos no Seminário Teológico de Princeton,[2] seguindo para a Europa onde completou seus estudos teológicos e aperfeiçoou-se na língua francesa, pois deseja exercer seu ministério missionário no Haiti. Ainda na Europa, na Suíça, casa-se com Elizabeth M. Fletcher (1845-1903), filha do pastor e teólogo César Malan.[3]
Mas quando de seu retorno aos Estados Unidos muda de ideia quanto ao campo missionário e resolve vir ao Brasil desembarcando no Rio de Janeiro[4] em 14 de Fevereiro de 1852 (JAMES, 1952, p. 23) então com 29 anos, e permaneceu atuando até meados de 1869, com alguns intervalos. Chega como missionário e Capelão da Sociedade Americana de Amigos dos Marítimos (American Seamen’s Friend Society) que tinha o propósito de suprir as necessidades espirituais e sociais dos marinheiros americanos em todo o mundo e naqueles dias o porto do Rio de Janeiro recebia em média 10.000 marinheiros americanos, cujos navios aportavam para reparos e abastecimento. Ele também veio vinculado à outra missão americana denominada de União Cristã América e Estrangeira (American and Foreign Christian Union) que tinha como objetivo assistir aos americanos que residiam no Brasil. Portanto, ele não vem especificamente para alcançar brasileiros, mas no transcorrer de suas atividades foi sendo tomado por uma paixão forte que o impulsiona cada vez mais a ser envolver com os brasileiros e sua grande nação.
Em 1854 ele retorna aos Estados Unidos, devido à enfermidade da esposa Elizabeth M. Fletcher logo após o nascimento de seu segundo filho. Neste período encontra-se com o missionário metodista Daniel P. Kidder, que estivera no Brasil em momento anterior, e recebe deste a proposta para atualizar seu livro “Sketches of Residence and Travels in Brazil”[5] (editado em 1845). Com novo fôlego retorna ao Brasil, agora coligado a União Americana de Escola Dominical (American Sunday School Union) e no biênio 1855'6 viaja mais de 5.000 quilômetros no país distribuindo e organizando depósitos de Bíblias como agente da Sociedade Bíblica Americana.[6] Em 1862 ele navegou mais de 3.000 quilômetros pelo rio Amazonas ocasião em que colheu amostras e matéria para estudo de ciências naturais que enviou ao Prof. Louis Agassiz,[7] cientista renomado da Universidade de Harvard, e de que este se serviu para seus estudos ictiológicos e posteriores observações na mesma região.
Sua atuação no Brasil foi muito além de um missionário protestante ou de um viajante observador. Em quase uma década ele se embrenha em os mais diversificados espaços sociais brasileiros:
Ø  Capelão dos Marinheiros americanos
Ø  Colportor da Sociedade Americana
Ø  Prestou assistência aos imigrantes ingleses, irlandeses e escoceses (RJ), em sua maioria eram operários trazidos pelas empresas inglesas no iniciante processo de modernização do país; alemães e suíços (MG, PR, SC), que formaram colônias agrícolas, principalmente nas fronteiras.
Ø  Apoia os movimentos antiescravagistas no Brasil, municiando-os com literaturas e informações sobre as lutas travadas nos Estados Unidos e na Europa.
Ø  Fomenta a incipiente indústria nacional, bem como promove a primeira feira industrial Brasil/Estados Unidos.
Ø  Promove a imigração sulista americana, após a derrota na guerra da Secessão.
Ø  Envolve-se no amplo debate politico sobre a plena liberdade religiosa no Brasil.
Torna-se um dos mais ardorosos defensores do Brasil e seus interesses na mídia americana e de outros países:
Ø  Defende o país em relação á guerra contra o Paraguai, inclusive junto às Universidades americanas em que pode dar palestras.
Ø  Escreve diversos artigos em jornais no país e no exterior, sempre em defesa do Brasil, textos que se reproduziram até mesmo em Calcutá, na Índia.
Ø  Escreve e edita o livro “O Brasil e os Brasileiros”, fazendo sucessivas reedições atualizadas. Esse livro torna-se leitura obrigatória para os missionários posteriores.
Ø  Sua atuação em defesa do país e boa aceitação e crítica positiva do livro mereceu o convite honroso para ser membro Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, então a instituição acadêmica mais relevante no país.
A última atuação de Fletcher em seu esforço missionário no Brasil ocorre também no biênio de 1868/69 agora como agente da Sociedade Americana de Folhetos (American Tract Society – ATS).[8] Em 1869 Fletcher vai para Portugal para exercer a função de cônsul na cidade do Porto (1869/73). Ainda exerce atividade missionária em Nápoles (1873/77), retornando finalmente para os Estados Unidos em sua residência em Indianápolis.
Ele foi um colaborador constante da imprensa periódica, entre os quais American Register, o New York Advertiser, correspondente do New York Daily Times e o Evangelist. Mas sem dúvida alguma seu livro a partir da obra inicial de D. P. Kidder,[9] intitulado “O Brasil e os Brasileiros” [The Brazil and The Brazilians – Portrayed in Historical and Descriptive Sketches] é o seu maior legado ao país e se tornou uma importante e conceituada obra não apenas sobre o Brasil, mas também sobre a América do Sul tornando-se referencial para todos os que desejavam conhecer e trabalhar no país, bem como leitura de cabeceira para quaisquer missionários que desejassem atuar no Brasil, como os pioneiros Dr. Robert Reid Kalley, que formou a primeira igreja protestante em e para brasileiros (Congregacional) e A. G. Simonton que implanta a Igreja Presbiteriana no país.
No dia 24 de abril de 1901, na cidade de Los Angeles o Dr. James Cooley Fletcher, um homem notável, morre às 10 horas da manhã em sua casa, na rua Bonnie Brae Street, No. 173, em decorrência de um derrame cerebral que havia sofrido na quarta-feira antecedente, desde então, ele estava confinado em sua cama e desfalecendo gradualmente até sua morte nesta manhã. Por tudo quanto James C. Fletcher realizou, deve figurar como um dos pioneiros do protestantismo brasileiro do século XIX.
Além da paupérrima historiografia, acrescentam-se os expurgos de personagens e acontecimentos que foram efetivamente praticados pelos raros historiadores protestantes. Entre outros, sem dúvida alguma se encontra a figura de James Cooley Fletcher que apesar de ter sido um pioneiro das atividades missionárias protestante no país, ficou completamente ignorado e invisível até recentemente, como conclui Vieira, um dos raros historiadores protestante a citá-lo com acuidade: “Fletcher é um autor muitas vezes citado, ainda que pouco compreendido” (VIEIRA, 1980, p. 62).[10] Mas outras vozes, fora do protestantismo, atestam a presença relevante da pessoa e das ações empreendidas por Fletcher na sociedade brasileira: Gilberto Freyre, um dos mais conceituados historiadores brasileiro testemunha de que o missionário estadunidense foi um observador fiel de muitos aspectos da sociedade brasileira do século XIX (FREYRE, 1986, p. 325) e despido dos olhares preconceituosos e arrogantes de outros estrangeiros que escreveram sobre o país. David James o inclui com destaque no rol dos chamados “amigos da Nova Inglaterra” de d. Pedro II (JAMES, 1952, p. 2), mantendo contatos mais do que casuais com o imperador. Dando uma dimensão maior para essa relação do entusiasta missionário protestante com o monarca brasileiro acrescenta que ele foi o cupido do “caso de amor [de d. Pedro II] com os Estados Unidos” (CARVALHO, 2007, p. 157-159). Atualmente muitos pesquisadores do protestantismo têm seguido esta trilha histórica paralela e resgatado em certo grau a pessoa e atividades deste pioneiro protestante entre os brasileiros.

O livro: “O Brasil e os Brasileiros”
            A obra coproduzida por Fletcher, que seus críticos insistem em minimizar quanto a sua participação e originalidade, não se constitui em uma mera reedição ampliada da obra de seu companheiro e colega de trabalho missionário Daniel P. Kidder, publicada em 1845, pela simples razão de que esteve no país por um período muito mais longo, quase uma década e de que ele se envolve intensamente nos acontecimentos ocorridos no país durante esse período, enquanto seu colega esteve apenas por um curto espaço de tempo, quase três anos, e praticamente se ateve a ser um observador dos acontecimentos. Ainda que ambos igualmente percorressem o vasto território brasileiro e testemunharam os fatos por eles registrados.
            Sua efetiva contribuição para a ampliação da obra anterior e agora tornada independente com sua nova titulação – O Brasil e os Brasileiros[11] – foi decorrente não apenas de suas observações pessoais, derivadas de suas viagens longas pelo país, mas efetivada na utilização das mais diversas fontes primárias de informações: arquivos e bibliotecas no Brasil; leitura de outros autores como Padre Antonio Vieira e Luis de Camões, o poeta norte-americano Henry Wadsworth Longfellow, citações provindas de viajantes como Spix e Martius, Alexander Von Humboldt, Auguste de Saint-Hilaire e Thomas Ewbank, e ainda, documentações oficiais de Estado como Falas do Trono e relatório do Ministério do Império (Débora Villela de Oliveira, 2011).
            Desde sua primeira edição (1857) pela editora Childs & Patterson, da Filadélfia, a obra dos missionários foi bem recebida pelos críticos e leitores. Um dos mais conceituados jornais da época, o Harper´s Magazine em sua edição de Novembro, trouxe uma positiva avaliação crítica do livro.[12] Suas informações foram consideradas precisas, proporcionando aos leitores uma percepção clara sobre as características básicas da geografia do país e da sua população, bem como de seu governo, literatura, arte e religião. O formoto gráfico com suas belas ilustrações também foi apreciado (Literary Notes, In: Atlantic Monthly, n. 1, v. 1, Boston, Nov. de 1857).
            Uma característica peculiar é que Fletcher não deixa de tecer no transcorrer de sua narrativa as críticas que entende serem oportunas e necessárias, mas o faz de tal forma que não produz irritação ou repúdio dos leitores brasileiros, como posteriormente será destacado inclusive pela nota crítica emitida pelo próprio Instituto Histórico e Geográfico do Brasil:
Se alguma vez o seu Autor [referindo-se especificamente a Fletcher] se permite alguma facécia a respeito de nossos costumes, não é, todavia com o intento de expor-nos ao ridículo, como têm feito outros viajantes e escritores. Aponta muito de nossos defeitos, que se não podem negar; mas, em geral, ameniza com a sua benevolência as críticas que faz: de sorte que conclui-se antes em seu Autor um afeiçoado do Brasil, do que um desses viajantes que não tendo saído do seu gabinete maldizem de tudo e de todos; se Fletcher censura é porque desejaria que o Brasil e os brasileiros progridam na civilização.(RIHGB, xxv [862], p. 292/293, apud VIEIRA, 1980, p. 80).
Assim, em suas críticas, às vezes até contundentes, transparece o carinho e respeito que o autor nutre pelo Brasil e suas instituições e povo. Como ele mesmo haveria de salientar em outro momento, em nota ao próprio imperador D. Pedro II quando do envio de uma nova edição, as críticas sinceras e genuínas são preferíveis às palavras lisonjeiras e dissimuladas.
            Ainda nas primeiras páginas os autores esclarecem um motivo pelo qual elaboraram o livro. Segundo eles o público americano tinha uma concepção equivocada sobre o que veria a ser o Brasil. Deste modo, pretendem oferecer aos leitores uma visão real e despojado de qualquer espírito jocoso.  Para eles a nação brasileira é uma potencia a ser desenvolvida e, portanto, de grande interesse para intercâmbios e acordos comerciais com os Estados Unidos. É um país que tem um governo estável, a monarquia parlamentar, com uma constituição moderna. Tudo que se registra foi testemunhado de forma ocular pelos escritores durante o tempo em que cada um deles permaneceu e percorreu o vasto território nacional (KIDDER and FLETCHER, 1879, p. 3-5).
            Evidentemente que na abordagem referente à religião os autores revelam seus posicionamentos protestantes em aberto contraste com a religião oficial do país, o Catolicismo Romano. Destacam as incursões francesas dos huguenotes (protestantes) no Rio de Janeiro e posteriormente os holandeses em Recife. Descrevem o catolicismo como sendo uma religião em declínio e profundamente associada a toda sorte de heresias e superstições, arguque na mentos esses que na verdade se constituía na grande bandeira das ações protestantes em todos os países católicos. Reforçam a tese de que o catolicismo representa o atraso, que a partir da religião acaba por permear toda a civilização brasileira, e que o protestantismo é o representativo do progresso que haveria de alçar o Brasil ao topo das nações civilizadas e prospera.
Segundo Alfredo de Carvalho (em sua obra Escritores Exóticos no Brasil), Brazil and the Brazilians é, "ainda hoje, nos Estados Unidos, senão o livro clássico, o mais vulgarizado (popular) sobre o nosso país". Também Marchant (em Handbook of Latin American Studies, 1938) escreve que a obra de Kidder e Fletcher "é, em sua época, certamente, a mais importante obra americana sobre o Brasil".

Edições em Inglês
1ª, 1857, Childs & Peterson, Filadélfia.
2ª, 3ª, 4ª e 5ª — 1858 a 1866, Childs & Peterson, Filadélfia, e Little, Brown, Boston, acréscimo de um mapa do Brasil e outro da Baía do Rio de Janeiro por C. B. Colton.
6ª — 1866 — Childs & Peterson, Filadélfia.
7ª — 1867 — Childs & Peterson, Filadélfia.
8ª — 1868 — Childs & Peterson, Filadélfia.
José Carlos Rodrigues, em Religiões Acatólicas no Brasil, refere-se a nove edições, e Alfredo de Carvalho, em Escritores Exóticos no Brasil, fala de 12 edições, porém não especificando datas.
            Assim, apesar dos autores cuidadosamente se esforçarem por colocarem o Brasil e os Estados Unidos no mesmo nível como nações ocidentais, realçando ao máximo as qualidades excepcionais e potenciais do país descrito, é possível se aperceber uma ascendência civilizacional, pois o país norte americano é constituído em modelo a ser seguido pelos brasileiros para alcançarem o progresso. Esse gargalo de renunciar a religião e a cultura nacional, para avançar em rumo ao progresso civilizatório idealizado na nação norte americana nunca de fato foi desobstruído e permaneceu mesmo após os protestantes se estabelecerem por definitivo por todo o país.
            As elites brasileiras, ao menos uma grande parte delas, abraçaram entusiasticamente as propostas progressistas embutidas no protestantismo americano, mas em momento algum cogitaram em abrirem mão de sua religião e suas tradições. Seus filhos podiam livremente estudar nas Escolas protestantes, mas mantinha-os arraigados no velho e seguro porto do catolicismo brasileiro.
            Por sua vez, os protestantismos que por aqui foram aportando, se contentaram em construir cada um seus próprios espaços protestante-feudais, satisfazendo-se em se defenderem de possíveis reações católicas, que acabaram não se efetivando, e por fim ficaram satisfeitos em vivenciarem suas expressões de fé protestante-transcurais, enquanto o restante da sociedade brasileira permaneceu sem ser incomodada.
Nos primórdios da implantação do protestantismo, uma porcentagem pequena de famílias estabelecidas acabou sendo alcançadas pela mensagem e proposta progressista protestante, mas de fato vai exercer uma forte atração junto às camadas mais carentes e marginalizadas da sociedade brasileiras, avidas por uma oportunidade de ascensão e inserção social, se não para si mesmo, mas para seus filhos e netos. E de fato é isso que vai acontecer no transcorrer do processo, de maneira que, a partir da terceira geração os protestantes nacionais estarão confortavelmente inseridos nas zonas de conforto da classe média e nos estratos sociais mais elevados. Foram alavancados pelo sistema educacional ampla e estrategicamente desenvolvido nos grandes centros urbanos, começando pelos Colégios e posteriormente pelas Universidades. Mas o preço foi extremamente alto – a opção pela alienação da sociedade brasileira.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/


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O Protestantismo na Capital de São Paulo: A Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras.

Referências Bibliográficas
CARLA VIVIANE PAULINO. A Etnologia norte-americana e o ideal de progresso: representações sobre o Brasil e os brasileiros nos escritos de Thomas Ewbank (1846). Revista Eletrônica da ANPHLAC - Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas: N. 21, Jul./Dez. de 2016.
CARVALHO, José Murilo de. Dom Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
DULLES, Joseph H. Princeton Theological Seminary Biographical Catalogue. 1909.
GAYLE, Thornbrough; RIKER, Dorothy & CORPUZ, Paula (eds.). The Diary of Calvin Fletcher Volume IV 1848-1852 Including Letters to and from Calvin Fletcher. Indianapolis: Indiana Historical Society, 1975.
JAMES, David. “O Imperador do Brasil e os seus Amigos da Nova Inglaterra” In: Anuário do Museu de Petrópolis Volume XIII. Petrópolis: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
KIDDER, D. P. & FLETCHER, J. C. Brazil and the Brazilians, portrayed in Historical and Descriptive Sketches (9ª. ed.). Philadelphia: Childs & Peterson, 1879.
KIDDER, D. P. e FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros – esboço histórico e descritivo, v. 1.Brasiliana – Biblioteca Pedagógica Brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941 [Tradução da 6ª. edição em inglês - Elias Dolianiti e Revisão e Notas de Edgard Sussekind de Mendonça].
KIDDER, Daniel P. Sketches of Residence and Travels in Brazil, Embracing Historical and Geographical Notices of the Empire and its Several Provinces. Philadelphia: Sorin & Ball, 1845.
LÉONARD, Émile-Guillaume. O protestantismo brasileiro – estudo de eclesiologia e de história social,2ª. ed. Rio de Janeiro e São Paulo: JUERP/ASTE, 1981.
MATOS, Alderi Souza de. Os pioneiros presbiterianos do Brasil. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.
MENDONÇA, Antônio G. e VELÁSQUEZ FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo; Ed. Loyola, 2002 [1990].
OLIVEIRA, D. V. “The Brazil and The Brazilians”: Apontamentos documentais e analíticos de uma publicação norte-americana sobre o Brasil no século XIX. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.
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VIEIRA, David Gueiros. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980.




[1] Seu nome foi uma homenagem a James Cooley, professor de direito do pai em Urbana, Ohio.
[2] Essa instituição teológica desempenha um papel relevante na formação dos missionários protestantes que vieram para o Brasil. Fletcher possivelmente estudou sob Samuel Miller, Joseph Addison Alexander, Charles Hodge e Archibald Alexander, alguns dos principais teólogos calvinistas da época (DULLES, 1909, p. 17).
[3] Além de seu casamento, o jovem Fletcher teve oportunidade, enquanto na Europa, de Entre outras experiências vividas na Europa, teve a oportunidade de encontrar-se com Alexis de Tocquevile em Paris (KIDDER & FLETCHER, 1879, p. 138) e participar do encontro do Congresso Internacional da Paz na mesma cidade em 1849, como correspondente para o jornal Observer de Nova Iorque (GAYLE; RIKER & CORPUZ, 1975, p. 135).
[4] Desembarca no porto do Rio de Janeiro acompanhado da esposa Henriette e do filho Edmond.
[5] Esta obra Kidder foi traduzida por Moacir N. Vasconcelos e editada na Biblioteca Histórica Brasileira, Livraria Martins, São Paulo, com o titulo de “Reminiscências de viagens e permanência no Brasil”.
[6] Este trabalho desenvolvido por Fletcher e outros missionários e colportores foram a sementeira para a futura colheita feita pelos missionários posteriores que vieram com a finalidade de implantar e desenvolver suas denominações evangélicas protestantes no Brasil, incluindo aqui os pioneiros presbiterianos com Ashbel G. Simonton e seus companheiros.  
[7] O Prof. Agassiz recebeu do Instituto Histórico e Geográfico o certificado de membro honorário que lhe foi entregue por Fletcher e posteriormente o cientista agradeceu pessoalmente ao Instituto pelo título recebido (16 de junho de 1865).
[8] O objetivo especificamente da ATS nesse momento era encontrar uma forma rápida e eficaz de evangelizar especialmente no oeste americano, daí o uso de panfletos e folhetos contendo informações resumidas e de fácil assimilação.
[9] “Sketches of Travel and Residence in Brazil”. Esta obra Kidder foi traduzida por Moacir N. Vasconcelos e editada na Biblioteca Histórica Brasileira, Livraria Martins, São Paulo, com o titulo de “Reminiscências de viagens e permanência no Brasil”.
[10] Essa invisibilidade e expurgo sofridos por Fletcher se deve alguns fatores concretos: ele sempre foi muito empolgante, até mesmo esfuziante e seus projetos sempre foram, ao menos no desejo, muito grandes (seu desejo acalentado era de “converter” D. Pedro II ao protestantismo); esse “barulho” que Fletcher fazia de suas ideais e ações incomodavam os posteriores missionários que aqui chegaram com projetos bem definidos de implantação de suas denominações, de modo que optaram pela discrição para não chamarem demasiadamente atenção das autoridades e principalmente dos eclesiásticos católicos romanos. Outras razões seriam mais subjetivas, visto que Fletcher não morreu prematuramente enquanto atuava no país, não recebeu o “galardão” de mártir, tão ao gosto de um protestantismo carente desta figura; também contribuiu para seu ostracismo histórico o fato de que não erigiu nenhum “templo” que são marcos “eterno” de uma atividade missionária relevante no país. Mormente os demais que se enquadra em uma ou outra destas razões, também foram banidos para o “limbo” das historiografias oficiais das denominações.  
[11] O nome original em inglês: The Brazil and The Brazilians – Portrayed in Historical and Descriptive Sketches
[12] Acessado em http://www.harpers.org/subjects/BrazilAndTheBraziliansBook.

Um comentário:

  1. Obrigada por nos trazer um pouco da história do protestantismo no Brasil. Realmente pouquíssima valorizada. Emocionante o relato do missionário daquela época sobre o campo missionário brasileiro.

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