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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Dietrich Bonhoeffer e a Genuína Postura Evangélico-Cristã Diante de Autoridades Déspotas e Corruptas


Dietrich Bonhoeffer teólogo, pastor e ativista cujo centenário se comemorou em 2006 (Nasceu a 1906 e Morreu em 1945) – é um dos muitos personagens protestantes que foram soterrados pelos escombros do protestantismo brasileiro após os desvarios e abalos sísmicos que fizeram tremer as estruturas eclesiásticas evangélicas nacionais pós 64.
            Esse extraordinário líder protestante alemão teve a ousadia e fé suficiente para enfrentar Hitler e toda sua ideologia alucinógena que atraiu e pactuou com as instituições cristãs alemãs. Bonhoeffer de fato foi uma voz que clamou no deserto de um cristianismo amalgamado com um sistema completamente ímpio e anticristo, que veio a produzir uma das maiores carnificinas da história humana de todos os tempos.
            Enquanto a igreja cristã alemã se calou acovardada e visando apenas e tão somente a autopreservação de suas instituições eclesiásticas, Dietrich Bonhoeffer abriu mão de si mesmo em prol de uma mensagem evangélica comprometida unicamente com os princípios estabelecidos nas Escrituras. O preço de tal atitude não poderia ser outro – foi preso e morto pelo Nazismo no campo de prisioneiros de Flossenbürg (Alemanha) no dia09 de abril de 1945. Mas certamente pode ser colocado na “Galeria da Fé” da História Cristã, pois jamais se contaminou ativa ou passivamente com os manjares e vinho de um governo tirânico e corrupto, cujas ações ceifaram milhões de vidas e traumatizaram outros bilhões ao longo dos séculos posteriores. A vida e o martírio de Dietrich Bonhoeffer se tornou um modelo de postura cristã    que não compactua com o mal, mas que persistentemente visa o bem maior das pessoas e da sociedade no exercício de um cristianismo vivo e atuante como um pouco de fermento que leveda toda a massa, como Jesus ensinou. De um Evangelho da graça encarnada e não um pseudo-evangelho eclesiástico-materialista-hedonista.
            Na década de cinquenta e metade da década de sessenta pela primeira e única vez em seus mais de cento e cinquenta anos de presença no país, os protestantes se fizeram sentir agentes da nossa história. Uma geração de jovens das mais diversas denominações evangélicas se fizeram presentes nas mais diversas esferas sociais do Brasil. Como pequenas doses de fermento estavam presentes no meio dos movimentos estudantis, dos operários, dos sem-terra; adentraram nas favelas e cortiços que se haviam multiplicado ao redor dos grandes centros urbanos industrializados. Inflamados por um Evangelho da graça encarnado foram ao encontro das necessidades dos desvalidos, dos abandonados, dos que nada tinham.
            Eles não se satisfaziam mais com a “equidistância” que por décadas manteve os evangélicos enclausurados em seus mosteiros e feudos eclesiásticos. Imbuídos de uma mensagem cristã evangélica bíblica eles optaram por coloca-la em prática.
Diante de um quadro de miséria produzida por empresários gananciosos e governantes e políticos corruptos (qualquer semelhança com hoje não é mera consciência) que impregnava o ar social de um repugnante fedor de podridão e morte, esta geração de jovens evangélicos ousou desejar que as pessoas e toda Sociedade brasileira pudessem através da sua mensagem evangélica e das suas vidas “sentirem o doce e maravilhoso perfume de Cristo” que proporcionaria a todos os brasileiros uma esperança concreta de vida em abundância – de uma cidadania com dignidade.
Uma das fontes que fazia pulsar fortemente o coração e a alma dessa geração foi a vida e as obras de Dietrich Bonhoeffer que começava a serem traduzidas para o Brasil e estava sendo colocadas nas mãos dos jovens estudantes secundaristas, universitários e seminaristas. Para essa geração era impossível tomar conhecimento do que havia acontecido na Alemanha de Hitler e do posicionamento evangélico de Dietrich Bonhoeffer e permanecerem em suas fortificadas e confortáveis instituições eclesiásticas.
Mas esse movimento que tem nas “Conferências do Nordeste” seu apogeu foi completamente dizimado pelos poderes eclesiásticos evangélicos indistintos, e tudo quanto essa geração ousou fazer foi apagado das páginas da historiografia oficial. Todas as lideranças, professores, pastores entre centenas de outras foram literalmente cassadas e lançadas para fora das suas respectivas esferas eclesiásticas sem qualquer caridade. A juventude com seu entusiasmo contagiante foram imediatamente calados, a União de Mocidades da Igreja Presbiteriana do Brasil, uma das mais organizadas e contestadoras da alienação eclesiástica protestante, foi oficialmente extinta por seu órgão máximo o Supremo Concílio da igreja. Dentre os motivos apontados estava a politização excessiva de algumas lideranças da mocidade, que teriam desrespeitado a liderança eclesiástica (SILVA, 1996)[1]. Em outras denominações protestantes, com menor radicalidade, os embates foram semelhantes (ABUMANSSUR, 1991)[2].   
            Como exercício de reflexão a questão é: por que Dietrich Bonhoeffer foi banido das historiografias protestantes brasileiras? Por que esta figura pujante e fervorosa foi lançada no ostracismo dos estudos acadêmicos protestantes nacionais? Por que Dietrich Bonhoeffer tornou-se uma figura subversiva nas entranhas do evangelicalismo brasileiro?
            Uma resposta simples é: porque Dietrich Bonhoeffer desnuda sem qualquer pudor a complacência e comprometimento do evangecalismo[3] nacional que nos momentos mais tensos e tenebrosos da história do país, sempre optaram por uma “equidistância”, mas cujos movimentos pendulares sempre favoreceram os poderosos e a manutenção de seus “status quo” e suas benesses. A velha e amarrotada “equidistância” jamais pendeu para o povo e suas carências e para perda de quaisquer benefícios ou prazeres.
            Neste momento em que o Brasil vive a sua maior e mais devastadora crise institucional, onde todos os Poderes Republicanos estão debaixo de suspeição e quando os cidadãos brasileiros sentem-se ameaçados e coagidos por toda sorte de violência física, moral e emocional, nos falta, como faltou na Alemanha de Hitler, homens e mulheres que se posicionem e tomem a postura bíblico-cristã de Dietrich Bonhoeffer. Que tenham coragem e fé para abrirem mão de si mesmas em prol de uma mensagem evangélica encarnada em palavras e ações dignas de Jesus Cristo. E parafraseando o nosso hino da Independência, que precisa urgentemente se tornar nosso “hit”, “Brava gente [evangélica] brasileira! Longe vá... temor servil Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil”.
            Dietrich Bonhoeffer escreveu diversas obras conforme pequena relação abaixo e que vale a pena serem lidos e pensados. As reflexões que convulsionaram o coração e a alma de Bonhoeffer permanecem atuais e deveriam convulsionar também a nossa vida cristã e nos empurrar para fora da nossa zona de conforto, assim como as contrações expulsam o bebê que sossegadamente vive e se nutre no útero de sua mãe. Se perguntarem para o bebê se ele quer sair pra fora irá dizer: não, estou bem aqui! Mas para que ele possa se desenvolver plenamente, sem matar a sua mãe, o organismo produz contrações cada vez mais fortes, até que ele é expulso para fora. Que as reflexões de Bonhoeffer possam se constituir em contrações cada vez mais fortes até que saiamos do conforto eclesiástico e nos lancemos para a crua e terrível realidade brasileira, pois somente assim alcançaremos a maturidade cristã e seremos de fato e de verdade sal e luz desta Nação, sem causarmos a morte da igreja evangélica brasileira.
            De acordo com Luciana Soares Ramos (2007, p. 69) em seu excelente trabalho sobre a presença e influência bonhoefferiana na América Latina, quem introduziu o pensamento teológico do pastor alemão no Brasil e posteriormente na América Latina foi o missionário estadunidense Richard Shaull, então professor do Seminário Teológico Presbiteriano em Campinas, que:
“começa a ensinas as obras de Bonhoeffer Preço do Discipulado (cujo titulo original era Nachfolge, editado em 1937, e que significava, precisamente, o seguimento), Vida em Comunhão (fruto de um curso dado aos futuros pastores no Seminário clandestino de Finkenwald da Igreja Confessante)” [itálico da autora]. Ela ainda cita Julio de Santa Ana: “Foi durante um de seus seminários no Sítio das Figueiras, Brasil, em 1952, que Richard Shaull começou a falar da obra de Bonhoeffer. Até esse momento apenas seu Nachfolge havia sido mencionado” (1976, p. 189).
         O missionário presbiteriano não apenas em suas palestras, mas também em seus diversos livros faz numerosas referências aos ensinos e reflexões teológicas de Bonhoeffer. A influência de Richard Shaull no Movimento Estudantil Cristão (MEC), que havia iniciado nos anos 1940, disseminou rapidamente as propostas do pastor alemão nas academias evangélica-protestante. Mas como mencionado acima, tudo isso se desvaneceu e foi soterrado pela demolição efetivada pelos mandatários eclesiásticos da época.
            Este espaço será utilizado para compartilharmos um pouco do pensamento e experiência de Bonhoeffer registrado nas páginas de seus livros. O primeiro será o “Discipulado” (em alemão “nachfolgen” = seguir após), escrito em 1937 um dos livros que impactaram a vida de milhares de cristãos, tanto protestantes quanto católicos romanos, em todo o mundo e que desafiou a juventude protestante brasileira na década de cinquenta e sessenta.
            Na verdade o pastor germânico originalmente o intitulou de “O Preço do Discipulado”, pois não pretendia oferecer um manual de discipulado, mas buscar o amago de ser um discípulo de Jesus na vivência cotidiana, com todas as suas lutas e desafios.
            Ele inicia sua reflexão sobre uma questão central do Evangelho – a graça. Em sua analise da realidade de como viviam a maioria dos evangélicos de seus dias (e que em nada difere da maioria dos evangélicos brasileiros), ele percebe o quanto a graça contida no Evangelho estava sendo barateado e que ele denominava de “graça barata” onde o pecado não é tratado como pecado, onde cada um pode fazer o que bem entender, onde tudo é negociável; para contrapor a tudo isso ele conclama um retorno à “graça preciosa” que para ele "é o tesouro oculto no campo, pelo qual o ser humano vende feliz tudo que possui; é a pérola preciosa, pela qual o mercador oferece todos a seus bens; é o domínio do reino de Cristo, pelo qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar; é o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo deixa suas redes para trás e o segue". Evidentemente que esse retorno não se fará sem esforço, suor e lágrimas.
            Seu ponto de partida é o material que o evangelista Mateus reuniu e que é denominado de “Sermão do Monte” (Mt 5-7). E sua ênfase está na questão da “justiça” com a qual o genuíno discípulo está plena e totalmente comprometido. O chamado de Jesus para o discipulado implica em compromisso com a justiça “dos pobres, dos tentados, dos famintos, dos mansos, dos pacificadores, dos perseguidos por causa do chamado de Jesus”.
            Evidentemente que suas colocações e afirmativas machucavam os ouvidos sensíveis dos evangélicos descompromissados com a justiça do Reino; irritavam crescentemente todos aqueles evangélicos tranquilamente arraigados em suas zonas de conforto eclesiástico; e finalmente atraíram a ira de todos aqueles que desejavam se utilizar do Evangelho para uso fruto pessoal.
            Para Bonhoeffer não há meio termo: ou resgatamos a “graça preciosa” com sua “justiça” ou fracassaremos vergonhosamente, como fracassaram os cristãos alemães. As propostas de Bonhoeffer são provocativas, densas, exigentes, prementes, mas indispensáveis para todos aqueles que desejam genuinamente ser um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.
            As colocações de Bonhoeffer são oásis no deserto deste evangelicalismo tupiniquim amalgamado nas estruturas eclesiásticas; são balsamo para aqueles que estão sendo afligidos pelos malefícios de uma graça barateada e comercializada; são melodias celestiais para todos ouvidos que tem sido ensurdecido com as mais desafinadas pregações mundanas proferidas dos púlpitos e mídias evangélicas nacionais.
            Quero convidar você a juntos redescobrirmos e praticarmos o genuíno discipulado de Jesus, proposto por Dietrich Bonhoeffer ao preço da perda de sua comodidade, liberdade e por fim de sua própria vida.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica

http://reflexaoipg.blogspot.com.br

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Obras de Dietrich Bonhoeffer (português e espanhol):
BONHOEFFER, Dietrich. Se não morrer... Fica só: a vida em comum. Lisboa: Livraria Alegria, 1963.
____________________. Resistência e Submissão. Tradução Ernesto J. Bernhoef. Rio de Janeiro: Pas e Terra, 1968. (Série Ecumenismo e Humanismo, v. 8).   
____________________.  Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 1980.
____________________. Vida em Comunhão. Tradução Ilson Kayser. 2 ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 1986.
_____________________. Orando com os Salmos. Tradução Martin Weingaertner. Curitiba, Paraná: Encontrão, 1995.
____________________. Tentação. Tradução Enesto J. Bernhoeft. 4 ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 1995.
____________________.  Ética. São Leopoldo: Sinodal, 2001.
____________________. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. São Leopoldo: Sinodal, 2003.
____________________. Sociología de la Iglesia: Sactorum Communio. Salamanca, España: Ediciones Sígueme, 1969. (Cubierta: Jesús Galdeano Echarri; Colección Dialogo).
____________________. Yo he amado a este Pueblo. Tradução Greta Mayena. Buenos Aires, Argentina: Editorial La Aurora, 1969. (Testimonio de responsabilidade com uma introducción de Hans Rothfels).
____________________. Quién es y quién fue Jesuscristo? Su historia y su mistério. Barcelona, Espanha: Ediciones Ariel, 1971. (Libros del Nopal).
____________________. Creery Vivir. Salamanca: Singueme, 1974.
____________________. Redimidos para lo humano: Cartas y diários (1924-1942). ALEMANY, José J. (Ed.). Salamanca, Espanã: Ediciones Sígueme, 1974. (Cubierta: Luis de Horna; Estudios Sígueme, 12).
____________________. Sociologia de La Iglesia: Sanctorum Comunio. Salamanca: Sigueme, 1980.
____________________. Prédicas e Alocuções. Tradução de Harald Malschitzky. São Leopoldo: Sinodal, 2007.

Referências Bibliográficas
BAADE, Rolf. O itinerário do pensamento ético de Dietrich Bonhoeffer. São Leopoldo-RS: EST, 1993. 54p. Monografia (Trabalho de conclusão do curso de Teologia) - Faculdade de Teologia, Escola Superior de Teologia.
BARCALA, Martin. S. Cristianismo Arreligioso: uma análise da religião a partir da teologia de Dietrich Bonhoeffer. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, 2008 (Monografia).
BETHGE, Eberhard. Dietrich Bonhoeffer: Theologian, Christian, Man for His Times. A Biography. Minneapolis: Fortress Press, 2000.
FILIPPI, Nella. Cristianesimo adulto in Dietrich Bonhoeffer. Roma: Herder, 1974.
BERNHOEFT, Ernesto J. No caminho para a liberdade: Vida e obra de Dietrich Bonhoeffer. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1965/66.
BETHGE, Eberhard. Dietrich Bonhoeffer: Teólogo, cristiano, hombre actual. Bilbao Editorial Espanola Desclée de Brouwer, 1970. (Nueva Biblioteca de Teologia).
BONHOEFFER: o agente da graça. Gateway Films : VISION VIDEO. São Paulo: COMEV Vídeo. Videocassete, VHS, sonoro, colorido. Dublado. Português.
CÁTEDRAS CARNAHAN. Dietrich Bonhoeffer: a 50 años de su ejecución por el tercer reich. Buenos Aires, Argentina: ISEDET, 1995.
CHAVES, Irenio Silveira. Ética Protestante e Pós-Modernidade: A formulação de uma proposta ética a partir de Dietrich Bonhoeffer. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
DUMAS, André. Dietrich Bonhoeffer: uma teologia para os não religiosos. In: DUMAS, André; BOSC, Jean; CARREZ, Maurice. Novas fronteiras da teologia. Irad. Jaci Corrêa Maraschin. São Paulo-SP: Duas Cidades, 1969. p. 99 - 115. (Teologia Hoje, n. 3).
____________. Una teologia de Ia realidad: Dietrich Bonhoeffer. Bilbao: Desclée de Brouwer, 1971. (Nueva Biblioteca de Teologia; 15).
FISCHER, Joaquim. Dietrich Bonhoeffer: Um mártir evangélico. Anuário Evangélico da IECLB. São Leopoldo, RS: Sinodal. (p. 51-52).
GAISER, Thomas. A Compreensão eclesiológica de Dietrich Bonhoffer a partir de Sanctorum Communio. São Leopoldo, RS: EST, 1989. 44p. Monografia (Trabalho de conclusão do curso de Teologia). Faculdade de Teologia da Escola Superior de Teologia.
HOURDIN, Georges. (2001), Vítima e Vencedor do Nazismo – Dietrich Bonhoeffer. São Paulo: Paulinas.
MALSCHIZKY, Harald. Dietrich Bonhoeffer: discípulo, testemunha, mártir, meditações. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
MEIER, Edson. Dietrich Bonhoeffer e o centro da sua vida e obra: o Jesus Cristo vivo, o encarnado, crucificado e ressuscitado. São Leopoldo, RS: EST, 1988. Monografia (Trabalho Semestral).
MENDONÇA, Antonio Gouvêa e VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1990.
MILSTEIN. Dietrich Bonhoeffer: Vida e Pensamento. Tradução Harald Malschizky. São Leopoldo, RS: Sinodal. 2006.
MOTTA, Francisco Alencar. Igreja: Missão, Testemunho e martírio – o modelo de igreja em Bonhoeffer para a América Latina. São Bernardo do Campo, SP: Monografia, 1986. (Trabalho de conclusão de curso de Teologia) – UMESP.
RAMOS, Luciana Soares. A recepção da teologia de Dietrich Bonhoeffer na América Latina. São Bernardo do Campo, UMESP, (Dissertação de Mestrado). 2007.
SANTA ANA, Julio de. The influence of Bonhoeffer on the Theology of Liberation. Ecumenical Review (WCC/Geneva), v. XXVII, n. 2, abr. 1976. P. 189.
SLANE, Graig. Bonhoeffer, o Mártir. São Paulo. Editora Vida, 2007.
SOUTO, José Carlos Soares. Bonhoeffer e a pregação do evangelho: uma proposta de comunicação da fé para os dias atuais. Belo Horizonte, MG: Monografia, 1997. (Trabalho de conclusão do curso de Teologia), UMESP.
VELASQUES FILHO, Prócoro. Uma ética para nossos dias. Origem e evolução do pensamento ético de Dietrich Bonhoeffer. São Bernardo: Editora Teológica/IMES, 1977.
ZERNER, Ruth. Bonhoeffer, Dietrich. Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, v. I, 205. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998.





[1] SILVA, H. A era do furacão: história contemporânea da Igreja Presbiteriana do Brasil (1959-1966). Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) ‒ Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo (SP), 1996.
[2] ABUMANSSUR, E. A tribo ecumênica no Brasil nos anos de 60 e 70. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1991.
[3] Evangelicalismo é uma concepção originária de "evangélico", o Evangelicalismo é um movimento teológico originário do Protestantismo, mas que não se limita a ele, que crê na necessidade de o indivíduo passar por uma experiência de conversão ("nascer de novo", "aceitar Jesus") e que adota a Bíblia como única base de fé e prática (MENDONÇA E VELASQUES, 1990). Utilizo esse termo aqui para identificar principalmente as chamadas igrejas protestantes históricas, que foram as primeiras a se transplantarem para o Brasil no final dos oitocentos.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Quando o Protestantismo Brasileiro Foi Inserido no Contexto Internacional


            O protestantismo começa a ser efetivamente inserido no campo religioso brasileiro somente na segunda metade dos oitocentos.  O presbiterianismo foi um dos primeiros ramos do protestantismo a se instalar efetivamente no Brasil. Antes mesmo da implantação denominacional um pastor presbiteriano, Rev. JamesCooley Fletcher (1851),[1] deixou marcas indeléveis da presença protestante no país ((LÉONARD, 1963, cap. 1; BARBANTI, 1977, cap. 2; VIEIRA, 1980, caps 3 e 4). Somente com o desembarque do jovem pastor Rev. Ashbel Green Simonton em 1859 é que o presbiterianismo começa a ser definitivamente implantado, primeiramente no Rio de Janeiro, mas é a partir de São Paulo que a denominação tem um período intenso de expansão, de maneira que, em curto tempo se faz presente em diversos pontos do território nacional. Um fato fundamental para esta irradiação presbiteriana foi a inserção do ex-padre JoséManoel da Conceição, que se torna o primeiro pastor protestante ordenado no Brasil.
              Por um longo período a Igreja Presbiteriana do Brasil permaneceu tutelada pelas duas Juntas Missionárias Americanas responsáveis pelos missionários pioneiros.[2] Mas de forma consistente e paulatinamente a denominação vai produzindo suas lideranças pastorais nacionais. Em 1910 a Igreja Presbiteriana do Brasil alcança sua plena autonomia eclesiástica quando é instalada a primeira Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana do Brasil[3] órgão maior no organograma eclesiástico do presbiterianismo. A partir deste momento ela adquire autonomia de sua história e não carece mais da tutela das Juntas Missionárias norte americano, ainda que por muitas décadas caminhassem em mutua cooperação.
O que deveria ser motivo de grande alegria acaba por tornar-se o epicentro da primeira grande ruptura do presbiterianismo nacional. Mal completando sua primeira data expressiva do cinquentenário, um grupo de líderes constituído de pastores e presbíteros, capitaneados pela figura carismática do Rev. Eduardo Carlos Pereira,[4] separam-se e formam uma nova denominação, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
            Todavia, a Igreja Presbiteriana do Brasil, continuava à margem do contexto protestante mundial. Se inicialmente havia justificativa para um comportamento nacionalista exclusivista em decorrência da concentração de esforços para implantação da denominação no vasto território brasileiro, agora já consolidada e contando inclusive com duas denominações presbiterianas brasileira, era preciso assumir seu lugar no contexto protestante internacional.
            Ainda que fosse um passo natural essa inserção, o presbiterianismo brasileiro, mais particularmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, manteve-se com raríssimas exceções, à margem do contexto protestante mundial. Nas parcas ocasiões em que ela teve a oportunidade concreta de se inserir neste contexto maior, a denominação optou pela neutralidade ou como ficou famosa a expressão, manter-se equidistante. Evidentemente que esta escolha trouxe suas consequências, se por um lado “protegeu” a denominação de influências “heréticas” de um liberalismo teológico e/ou ecumenismo interdenominacional, que até hoje aterroriza a denominação, por outro lado, apequenou a Igreja Presbiteriana do Brasil, limitando a sua atuação na esfera mundial e anulando sua influência nas instancias internacionais, a mantendo ensimesmada e reforçando sua característica de gueto denominacional, inclusive dentro do contexto nacional.
            Duas raras exceções neste contexto serão proporcionadas por duas figuras próceres da Igreja Presbiteriana do Brasil o Rev. Erasmo de Carvalho Braga e o Rev. José Borges dos Santos Jr., que será referido em artigo posterior.
O Rev. Erasmo Braga (1877-1932)[5] se constituiu em uma das figuras mais proeminentes, nacional e internacionalmente, do presbiterianismo brasileiro. O Dr. Alderi S. Matos (2004) ao escrever sua excepcional obra sobre Erasmo Braga preencheu uma lacuna, até então inaceitável, na historiografia biográfica do presbiterianismo nacional.
Braga foi fortemente impactado pelo Congresso do Panamá,[6] que originalmente recebera o nome de ― Congresso da Obra Cristã na América Latina.[7] É nesta Conferência que o Brasil e a América Latina entram definitivamente no mapa do movimento missionário mundial, deixando de lado sua síndrome de “Continente Abandonado” para se assumir como um “Continente das Oportunidades” (PIEDRA, 2008), e o jovem pastor presbiteriano torna-se a partir dessa experiência um entusiasta do ecumenismo evangélico,[8] pois entendia que somente na união das forças evangélicas nacionais se produziria um impacto sísmico capaz de transformar a sociedade brasileira.
Pouco antes de se iniciar os trabalhos da Conferência Erasmo foi convidado para ser um dos responsáveis em fazer a historiografia dela:[9]
Horas antes de reunir-se em Panamá, Zona do Canal, o Congresso de Acção Christã na America Latina, a 10 de fevereiro de 1916, ... o dr. Frank K. Sanders, chefe do serviço editorial do Congresso, designou-me para redigir em Portuguez um volume com a narração dos trabalhos que iamos fazer (1917).
Deste momento em diante, até a sua morte, Erasmo vai adotar entusiasticamente a agenda do Panamá: cooperação evangélica, envolvimento social, o testemunho cristão na sociedade, a educação teológica de alta qualidade, a evangelização das elites. Desde então sua atuação vai extrapolar as linhas demarcatória do denominacionalismo exclusivista e sua atuação terá como propósito maior envolver as forças evangélicos brasileiras como um todo.
Em 1920, ele é nomeado secretário-geral do Comitê Brasileiro de Cooperação (BCC), uma filial do Comitê de Cooperação na América Latina (CCLA), cujos líderes foram Robert E. Speer[10] e Samuel G. Inman.[11] O CCLA, um resultado direto do Congresso do Panamá, tinha a intenção de promover uma maior integração das estruturas missionárias e igrejas nacionais na América Latina.
Em seu livro, produzido juntamente com Kenneth Grubb, faz uma análise da situação do protestantismo no Brasil e identifica o grande entrave que impedia a integração da mensagem evangélica protestante e a sociedade brasileira:
A tendência ao eclesiocentrismo levanta uma cerca ao redor das comunidades evangélicas, e isto resultará, inevitavelmente, em sua segregação da vida nacional. Servir à comunidade é um modo esplêndido de testemunhar de Cristo tanto na vida privada quanto na pública (BRAGA e GRUBB, 1932, p. 130).
É provável que por esta e tantas outras críticas contidas em sua análise do protestantismo nacional, bem com suas propostas para elucidar ou ao menos amenizar tais dificuldades, que esse livro nunca foi traduzido para o português, permanecendo apenas como referência bibliográfica para aqueles que ousam levantar tais proposições.
De forma sintética a solução de Erasmo Braga para romper o eclesiocentrismo excessivo que caracterizava as denominações evangélicas era a cooperação entre as igrejas para a evangelização ou cristianização da sociedade brasileira, que seria possível através de suas vertentes principais: educação, por onde os valores cristãos seriam inseridos na mente e coração do povo brasileiro, operando as transformações necessárias; e cooperação interdenominacional, que seria o instrumental das propostas advindas do Comitê de Cooperação para a América Latina (CCLA), nascida do então recente Congresso do Panamá.
Na próxima década Braga viria a se tornar o líder mais conhecido no protestantismo brasileiro, tanto no país como no exterior. Ele vai proporcionar as igrejas contribuições excepcionais nas áreas de evangelismo, educação cristã, publicações, e trabalho social, com base no esforço da cooperação entre os protestantes brasileiros. O escritório da CCLA no centro do Rio de Janeiro tornou-se um ponto de encontro para a liderança evangélica do Brasil. Através de seu esforço se promovia excelente companheirismo e cooperação das igrejas em torno de uma série de projetos de valor inestimável. Representou a comunidade protestante em relação ao governo e tornou-se uma ligação entre as igrejas e as diversas missões estrangeiras que atuavam no país, sempre no incansável esforço de alcançar uma sinergia desta multiplicidade de atividades.
Uma outra frente de atuação de Erasmo Braga foi inserir o protestantismo brasileiro no contexto mundial. Na medida em que ele participava das conferências internacionais mais se apercebia que as igrejas evangélicas brasileiras estavam vivendo isoladamente dos movimentos mundiais. Participou das maiores Conferências ocorridas naquela época: 9ª Convenção das Escolas Dominicais (Glasgow, 1924); Congresso sobre o trabalho cristão na América do Sul (Montevideo, 1925); a 19ª Conferência Mundial das ACMs (Finlândia, 1926); Conferência Mundial de Universidade Cristã para Estudantes e Professores (Dinamarca, 1926); Conferência sobre a Missão Cristã na África (Bélgica, 1926); a 34ª Reunião Anual da Conferência de Missões Exteriores da América do Norte (Atlantic City, 1927); 13º Conselho Geral da Aliança Mundial das Igrejas Reformadas (Boston, 1929); por fim, participa também de três reuniões do Conselho Missionário Internacional: Suécia (1926), Williamstown (1929), e a mais impactante delas, a Reunião de Jerusalém (1928). Em cada um destes eventos ele participava de forma integral em defesa de um trabalho evangélico na América Latina efetiva e dinâmica. Evidentemente que sua fluência em Inglês, Francês, Espanhol e Português foram imprescindível em sua intensa atuação internacional.
Tinha uma personalidade cativante de maneira que todos que se aproximavam dele não podiam deixar de perceber sua inteligência, a memória privilegiada, e sua enorme produtividade, mas nunca ostentava esses tão preciosos atributos. Ele também era um incansável leitor, acompanhando e absorvendo tudo que estava sendo produzido por seus contemporâneos como "uma enciclopédia ambulante". Somados a isso seu caráter e temperamento, sua integridade, cortesia, abnegação e generosidade, exerciam forte atração e gerava uma empatia sobre todos aqueles que estabeleciam contato com ele. Além de ser um ministro dedicado e professor capaz, ele cultivou a paixão pela área do jornalismo, tendo contribuído para muitos periódicos não apenas religiosos, mas também seculares. Braga foi um dos fundadores de várias organizações literárias, científicas e de serviços. Ele elaborou revistas pedagógicas direcionadas às escolas primárias e que foram utilizadas por várias décadas em todo o território brasileiro.
Na medida em que avança em suas pesquisas missiológicas desenvolvidas nos países latino-americanos foi tomando consciência das distorções religiosas, sociais e culturais que havia sido produzido quando da implantação do protestantismo na região. Entretanto, apesar dos equívocos estes países haviam recebido os princípios basilares da Reforma: um cristianismo dinâmico, valores éticos, instituições democráticas e as ênfases na educação, progresso social e econômico.
Mas diante de um quadro extremamente grave das nações latino-americanas: subdesenvolvimento, o analfabetismo, a ignorância, a superstição, o ceticismo, Braga conclui que somente os valores contidos no bojo do cristianismo reformado poderiam transformar esta situação. Já influenciado pelos conceitos do evangelho social, entende que uma solução para reverter um quadro tão horrendo seria possível somente quando as igrejas protestantes vivenciassem sua mensagem evangélica de tal maneira que pudesse impactar a sociedade e alcançar as transformações necessárias: a implantação do Reino de Deus na terra.
Entretanto, para que as igrejas protestantes pudessem concretizar essa proposta, era necessário efetuar mudanças significativas em sua forma de ser e agir: primeiramente abandonar seu complexo de inferioridade e isolamento, produzir um movimento de aproximação das diversas denominações evangélicas e também reestabelecer novos e fortes laços com as igrejas do hemisfério norte; paralelamente era preciso urgentemente renovar os métodos e utilizar uma linguagem mais acessível às pessoas de forma geral e assim interagir com a própria sociedade.
As chamadas denominações históricas - presbiterianos, metodistas, congregacionais e episcopais – da qual ele era oriundo, inicialmente apoiaram suas iniciativas e muitas delas foram implementadas, ainda que não totalmente, mas em grande medida. Entretanto, na medida em que o tempo vai passando, a mentalidade paroquial, diferenças doutrinárias, o medo de envolvimento na sociedade, e outras questões de nível mais personalista e mesquinho, foram minando a incipiente cooperação evangélica brasileira. Além das dificuldades internas, fatores de ordem externa também acabaram desestimulando a implementação dos projetos: crise econômica de 1929 na América do Norte, a controvérsia modernista fundamentalista, e novas percepções sobre a missão da igreja.
Erasmo Braga viveu intensamente seus 55 anos, entretanto sua morte, até certo ponto prematura, mitigou os esforços cooperativos. O lema de sua vida sempre havia sido extraído das palavras do apóstolo Paulo "Nós não vivemos para nós mesmos, e não morremos para nós mesmos" (Romanos 14.7). Seu caráter revestido de nobreza e idealismo, sua dedicação a Cristo e espírito sempre conciliador qualificou-o como nenhum outro líder evangélico para criar o mais fraterno e generoso ambiente que o protestantismo brasileiro experimentou em toda sua história e que retornará por um breve momento na década de cinquenta, ainda que não tão fraternalmente, para ser barbaramente erradicado na década de sessenta para nunca mais ressurgiu.
Sua convicção irredutível de que somente no Evangelho era possível encontrar os germes que haveriam de redimir os indivíduos e a sociedade contaminou e motivou as diversas denominações protestantes a experimentarem, ainda que por apenas um breve período, um envolvimento com a sociedade brasileira de uma forma coerente, altruísta, e criativa, como nunca antes havia ocorrido desde sua inserção. Ainda que em certo grau tenha sido um pouco ingênuo em algumas de suas expectativas, bem como excessivamente otimista sobre alguns desafios, ninguém jamais colocou em dúvida a sua seriedade, sinceridade e a dedicação em seus esforços para alcançar seus nobres objetivos.
Esteve a frete da ― Comissão Brasileira de Cooperação - que tinha uma agenda ambiciosa como a criação de uma universidade Protestante cujo embrião foi a instalação e funcionamento do Seminário Unido (1918-1933) que fechou um ano após seu falecimento. Todavia, um de seus sonhos mais acalentado somente tornou-se realidade dois anos após sua morte, a Confederação Evangélica do Brasil em 1934. Mas toda esta sua dedicação e empenho tornaram-se a sementeira do forte movimento ecumênico que eclodiu dentro das denominações protestantes e mais particularmente na Igreja Presbiteriana do Brasil nas décadas posteriores de 50 e 60, que haveria de produzir um dos abalos sísmico mais violento já registrado nos arraiais presbiteriano brasileiro em toda sua história.
Quão diferente seria o protestantismo brasileiro se suas lideranças não fossem tão míopes e surdas às propostas de Erasmo Braga. Ao invés de sermos tão somente telespectadores dos acontecimentos históricos que tem convulsionado nosso país periodicamente, sendo esses últimos decorrentes da chamada “Operação Lava-Jato”, dentro da perspectiva de Braga, haveríamos de ser proponentes de soluções para as grandes crises do país.
Erasmo Braga tinha a firme convicção, que faltou e continua em falta nas lideranças evangélica-protestante, de que no bojo do Evangelho de Jesus Cristo e no conjunto dos princípios estabelecidos na Bíblia, encontram-se as soluções para todas as problemáticas desta Nação em todas as suas instâncias.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas
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VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1980.




[1] Na historiografia protestante brasileira Fletcher tornou-se um personagem histórico “muito comentado, mas pouco compreendido”, de acordo com David Gueiros Vieira (1980, p. 62). Ele foi alienado da historiografia presbiteriana oficial desde o primeiro esboço produzido por Alexander Blackford e posteriormente seguido pelos demais historiadores eclesiásticos. Vieira foi o primeiro a destacar o diversificado e intenso esforço feito por Fletcher para a implantação do protestantismo no Brasil.
[2] Os primeiros missionários entre eles o pioneiro Ashbel Green Simonton foram enviados pela Junta de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte (PCUSA) cuja sede (comitê) ficava na cidade de Nova York e posteriormente desembarcaram também missionários enviados pela Junta de Missões da Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS) cuja sede (comitê) na cidade de Nashville.
[3] Posteriormente com a promulgação de uma nova Constituição (1937) e até os dias atuais a nomenclatura no Brasil passou a se “Supremo Concílio”.
[4] Em 1902, Eduardo Carlos Pereira publicou no jornal O Estandarte, o documento que ficou conhecido como Plataforma, contendo os pontos divergentes dos líderes nacionais: independência absoluta ou soberania espiritual da Igreja Presbiteriana no Brasil; desligamento dos missionários dos presbitérios nacionais; declaração oficial da incompatibilidade da maçonaria com a igreja protestante; conversão das Missões Nacionais 32 em Missões Presbiterianas ou autonomia dos Presbitérios na evangelização de seus territórios; educação sistematizada dos filhos da Igreja pela Igreja e para a Igreja, condenando a educação mista como meio de propaganda (Lessa, 1938, p. 638, 639).
[5] Erasmo Braga de Carvalho é representante da segunda geração de protestantes (presbiterianos) brasileiros. Seu pai, João Ribeiro de Carvalho Braga (1853-1934), nascido na cidade de Braga, em Portugal, faz parte da primeira geração de ministros da Igreja Presbiteriana do Brasil, sendo preparado em seus estudos teológicos pelo Rev. Alexander L. Blackford, que então pastoreava a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. Desde a sua infância, Braga esteve sob a influência de notáveis ​​missionários americanos, especialmente nas instituições de ensino da qual participou, sendo um deles Mackenzie College, em São Paulo, uma das maiores instituições educacionais estabelecidas pelo esforço missionário no Brasil. Depois de se formar no Seminário Presbiteriano, foi ordenado em 1898 e realizou seu primeiro pastorado na cidade de Niterói (RJ) como fundador e primeiro pastor desta igreja. Em 1901, tendo apenas 24 anos de idade, mudou-se de volta para São Paulo a fim de ensinar tanto no Mackenzie College, bem como, no Seminário Presbiteriano. Seu trabalho na educação teológica denominacional continuou até 1920.
[6] Além de Braga, foram como delegados oficiais da IPB os Revs. Álvaro Reis e os Missionários Samuel R. Gammon e William A. Waddell, também o Rev. Eduardo Carlos Pereira (IPI) e o Missionário Hugh C. Tucker (Metodista). (MATOS, 2008, p. 217 e Nota n° 88).
[7] A realização desse evento era uma resposta à Conferência Missionária Mundial de Edimburgo, em 1910, em que a América Latina foi classificada como um continente cristão e não incluída como um campo missionário. Vários missionários norte-americanos que atuavam na América Latina, e o pastor presbiteriano brasileiro Álvaro Reis, o único latino-americano presente em Edimburgo, como observador, formaram um comitê e escreveram um manifesto às igrejas nos EUA reclamando desta conclusão e virtual exclusão na Conferência de Edimburgo. Três anos depois, durante a Conferência Norte-Americana de Missões Estrangeiras, realizada em Nova Iorque, Robert Speer, secretário do Conselho de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana, criou o Comitê de Cooperação da América Latina que deu origem a uma série de conferências na América Latina que pretendia estudar a identidade do protestantismo latino-americano.
[8] É preciso esclarecer que o ecumenismo defendido ardorosamente por Braga sempre foi em relação às demais denominações evangélicas que se faziam presentes no território brasileiro, bem como denominações e organizações evangélicas internacionais, em nenhum momento ampliou essa unidade para o catolicismo ou outras expressões religiosas.
[9] Outros dois trabalhos foram produzidos um em inglês, pelo Prof. H. P. Beach, outro em espanhol, pelo Prof. Eduardo Monteverde, da Universidade de Montevideo.
[10] Speer nasceu em Huntingdon, Pennsylvania, graduado pela Universidade de Princeton, e tornou-se um itinerante recrutador para o Student Volunteer Movement (SVM), 1889-1890. Ele deixa o Princeton Theological Seminary em no meio de 1891 para aceitar o convite para ser secretário do Conselho Presbiteriano de Missões Estrangeiras e no qual permaneceu até sua aposentadoria em 1937. Tornou-se um referencial no que se refere ao avanço missionário protestante no início do século XIX.  Atuou e diversas frentes ecumênicas protestantes: the Foreign Missions Conference of North America, the Federal Council of Churches, the International Missionary Council, and the Committee on Cooperation in Latin America. Em 1927 foi eleito moderador da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana Americana. Produziu diversas literaturas relacionadas às questões missionárias: Missionary Principles and Practice (1902), The Gospel and the New World (1919), The Church and Missions (1926), The Unfinished Task of Foreign Missions (1926), The Finality of Jesus Christ (1933), and “Re-Thinking Missions’ Examined (1933). (James A. Patterson, “Speer, Robert Elliott,” in Biographical Dictionary of Christian Missions, ed. Gerald H. Anderson [New York: Macmillan Reference USA, 1998], 633).
[11] Originário de Trinity, Texas, ele foi profundamente impactado quando de seu ministério na periferia da cidade de Nova York, no bairro denominado de Cozinha do Inferno, onde desenvolve uma ênfase no evangelho social, de maneira que durante toda sua vida preocupa-se com pessoas e seu contexto social. Foi mentor, juntamente com Speer, do Comite de Cooperação na América Latina (CCLA) e seu secretário por 25 anos (1913-1938). Elaborou os planos da Conferência do Panamá (1916) e colaborou com as subsequentes, em Montevidéu (1925) e Havana (1929). Defensor do diálogo e relação intereclesial, participou da implementação da política de “boa vizinhança” do presidente Theodore Roosevelt e participou do movimento para o pan-americanismo.